A passividade "é uma característica" das vítimas de violência entre pares

Responsável da APAV considera que jovem da Figueira da Foz foi vítima de cyberbulling.

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Foi neste local na cidade da Figueira da Foz que o jovem foi agredido Adriano Miranda
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O jovem agredido passa boa parte do tempo no vídeo de braços cruzados DR

O psicólogo Daniel Cotrim, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), considera que a “estranheza” que tem sido demonstrada face à passividade com que o rapaz da Figueira da Foz reage à agressão por colegas decorre de um “estereótipo, que importa desmontar”.

“Quando se é vítima de violência entre pares, a passividade é uma característica dos dois géneros”, comenta.

Cotrim também não estranha que a vítima só agora tenha apresentado queixa, quase um ano depois da agressão. “Muitas vezes, as pessoas que são alvo de actos de vitimização não sabem que estão a ser vítimas. Essa consciência só poderá ter sido despertada a partir do momento em que o vídeo foi colocado nas redes sociais, gerando uma censura social que levou o jovem a sentir-se reforçado para avançar com a participação criminal”.

Esta reacção de censura é uma das “vantagens” apontadas por Cotrim à divulgação pública destes fenómenos. “Alerta-nos para este tipo de situações e permite que a sociedade se tenha tornado mais intolerante em relação a elas”, frisa. Este é um dos lados moeda. Mas há outro.

Estará o jovem do vídeo a ser vítima de bullying? Cotrim lembra que este tipo de violência entre pares implica uma “acção de vitimização continuada” que não se sabe ainda se existiu, mas não tem dúvidas que a partir do momento em que a agressão foi filmada e colocada nas redes sociais, com o intuito de humilhar a vítima, se está perante um caso de cyberbullying, um fenómeno que está em ascensão. “É importante que que a resposta da justiça seja exemplar, porque tal contribuirá para que estas situações não se repitam. Não estou a defender prisões preventivas, mas sim que no final se possa dizer que se fez justiça porque a vítima viu reparados os danos que sofreu”, acrescenta.

Já o sociólogo João Sebastião considera que este caso pode ser mais um de violência no namoro, que engloba também agressões e insultos contra ex-namorados ou aos seus parceiros actuais. “Num estudo que realizei sobre a violência no namoro entre adolescente de 15 anos no concelho de Cascais deparei com muitos casos destes “, refere o também coordenador do Observatório de Segurança Escolar. <_o3a_p>

Esta violência, que deriva da “imaturidade emocional da dificuldade em resolver conflitos”, é praticada tanto por rapazes como raparigas, mas é “mais frequente serem elas a praticá-la, talvez porque tenham mais dificuldades em lidar com a situação” de rejeição, adianta.<_o3a_p>

No estudo que realizou em Cascais foram abrangidos mais de 50 alunos e uma das conclusões a que se chegou foi que são as raparigas quem mais exerce violência emocional ou de exclusão social. Em 2014, segundo dados do último Relatório Anual de Segurança Interna, houve 1549 queixas por violência no namoro. No ano anterior tinham sido 1050. Segundo João Sebastião, muitas escolas estão já preparadas para intervir neste domínio. <_o3a_p>

Em Maio de 2011, outro vídeo colocado no Facebook testemunhando a agressão de uma jovem de 13 anos por outras duas raparigas, de 15 e 16 anos, também gerou uma onda de choque. Foram constituídos seis arguidos, entre eles o jovem que filmou e colocou o vídeo no Facebook e que, em conjunto com a agressora de 16 anos, chegou a ser colocado em prisão preventiva por alguns dias. O processo foi julgado em 2012, tendo os jovens sido condenados a penas suspensas sob condição de voltarem à escola ou frequentarem cursos de formação.

A pena maior, de dois anos e nove meses de prisão, foi para a principal autora das agressões, condenada por ofensas à integridade física qualificada e por dois crimes de roubo (um na forma consumada e outro na forma tentada).

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