Poda "drástica" de árvores na Av. Guerra Junqueiro gera contestação

A falta de informação sobre a intervenção em curso nos mais de 50 freixos desta avenida lisboeta, 22 dos quais vão ser abatidos nos próximos meses, está a motivar queixas.

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Enric Vives-Rubio

A “intervenção no arvoredo” em curso na Avenida Guerra Junqueiro, em Lisboa, está a gerar grande contestação entre moradores, comerciantes e outros cidadãos. O presidente da Junta de Freguesia do Areeiro reconhece que se trata de “uma poda drástica”, que nalgumas árvores “foi um bocado longe demais”, mas justifica a operação com a necessidade de garantir a segurança de quem passa nesta artéria.

Foi no início da semana que a junta de freguesia deu início a esta intervenção, que nas redes sociais já se diz que transformou a avenida numa “serração” ou num “cemitério de troncos”. Antes de a poda da cerca de meia centena de freixos existentes ter tido início, a junta afixou nos seus troncos um papel no qual informava que o estacionamento no local está condicionado porque “vão ser podadas árvores que por motivos estruturais põem em causa a segurança de pessoas e bens”.

O presidente da junta considera que essa informação “foi suficiente”, mas não é essa a convicção generalizada. “Devia ter havido uma melhor informação e debate com a população e com os comerciantes”, diz o empresário Carlos Moura-Carvalho, que lamenta que se tenha desperdiçado uma oportunidade de contribuir para “uma cultura democrática verdadeiramente participativa”.

“As pessoas sentem-se um bocadinho traídas”, observa o proprietário da Mercearia Criativa. “Mais do que o resultado” da intervenção em curso, que “não é o melhor, não é feliz”, Carlos Moura-Carvalho critica que às pessoas interessadas não tenha sido dada a hipótese “de serem informadas sobre o que está a acontecer à sua volta, de conhecerem os fundamentos da decisão, de participarem e fazerem sugestões”.

Também João Appleton, residente na Guerra Junqueiro, se queixa da “falta de transparência e de informação”. “O que me faz imensa impressão é a falta de informação”, diz, defendendo a importância de os moradores poderem ter “uma palavra a dizer” quando estão em causa processos como este, que “afectam a sua vida”.

“Como não fomos informados e não sabemos, ficamos a pensar se não haveria alternativa”, nota o arquitecto, que considera que essa circunstância “abre caminho a que as pessoas achem que podia ser de outra maneira”.

Sem querer falar sobre questões técnicas que não domina, João Appleton admite que considera “visualmente chocante” o resultado da poda em curso. “Alterou-se uma imagem de 60 anos em três dias, alterou-se todo o carácter da rua”, lamenta.

Já João Junqueira confessa que ao ver ser feita uma poda “de tal maneira violeta” pensou que as árvores iam ser abatidas. Agora que percebeu que isso não está previsto nesta fase, o arquitecto paisagista acha “estranho” que se faça esta operação nesta altura do ano.

Juntando essa circunstância ao facto de se estarem a cortar troncos de grande dimensão, João Junqueira considera que está em causa “uma mistura um bocadinho explosiva”, que pode comprometer “a capacidade de cicatrização” destes freixos e torná-los mais vulneráveis a doenças. “Não é normal. Actualmente já não se faz isto”, diz, manifestando a convicção de que “se viessem agora dias muito quentes, era provável que muitas árvores viessem a morrer”.  

Ao início da manhã desta sexta-feira, eram várias as pessoas paradas nos passeios da Guerra Junqueiro, a acompanhar com um ar incrédulo os trabalhos em curso e a tirar fotografias. Um a um, troncos de grande dimensão iam sendo cortados para a rua, impedindo durante alguns minutos a circulação de automóveis. Em frente à pastelaria Mexicana, no topo da avenida, erguem-se dois troncos nus, sem uma única folha.

O presidente da Junta de Freguesia do Areeiro diz que esses freixos “estão referenciados para ser substituídos”, mas admite que se “foi um bocado longe demais” na poda destes dois exemplares. “Aí espalharam-se um bocadinho, mas depois pusemos as coisas a ser bem feitas”, diz Fernando Braamcamp.  

Segundo o autarca, são 53 os freixos existentes na Guerra Junqueiro. “Todos precisavam de ser podados, para aliviar as cargas, para ficarem mais direitos, para reduzir as copas e afastá-las nas janelas”, garante, justificando-se com a avaliação do estado fitossanitário das árvores que foi feita pela Câmara de Lisboa.

É também com base nessa avaliação que Fernando Braamcamp adianta que “no tempo oportuno”, provavelmente “no final do Verão”, serão abatidos 22 dos freixos da avenida, por estarem “podres”. “Foi tudo analisado árvore a árvore. Isto não é a olho”, assegura, acrescentando que os trabalhos estão a ser coordenados por um engenheiro agrónomo de uma empresa contrata para o efeito.   

O autarca do PSD admite que está a ser feita “uma poda drástica”, mas nota que estavam em causa árvores que “não foram podadas ao longo de 30 anos”. Fernando Braamcamp acrescenta que este ano já houve “cinco ou seis” carros atingidos por ramos de árvores na Guerra Junqueiro e diz que foi sua preocupação actuar “antes que acontecesse alguma desgraça”, como a do homem que morreu no início da semana em Braga.  

“Compreendo as críticas, mas entre garantir a segurança das pessoas que circulam ali diariamente e se calhar exceder-me um bocadinho no zelo da protecção, prefiro isto”, remata.

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