Três mil passageiros da TAP já cancelaram reservas para primeiro dia de greve

Companhia prevê que será difícil realizar 33 voos na sexta-feira, mas só fará cancelamentos se pilotos não comparecerem ao serviço. Sindicato reafirma intenção de avançar com a greve de dez dias.

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Ao longo dos três primeiros dias de greve, a TAP prevê que poderão ser cancelados mais de 80 voos Raquel Esperança

São três mil os passageiros que já comunicaram à TAP a intenção de cancelar as reservas que tinham feito para o primeiro dia da greve dos pilotos, que começa nesta sexta-feira e se prolongará até 10 de Maio. Poderá haver mais clientes que não pretendem comparecer no aeroporto, mas até agora não deram essa indicação à companhia.

De acordo com dados cedidos pela TAP ao PÚBLICO, prevê-se que 33 dos 300 voos previstos possam não se concretizar nas primeiras 24 horas de paralisação, afectando também perto de três mil clientes. Outras 56 ligações ficarão asseguradas ao abrigo dos serviços mínimos, permitindo transportar cerca de 5500 passageiros.

Há, por isso, muitas incógnitas sobre o que acontecerá com as restantes 18 mil pessoas que tinham reservas feitas pela TAP: não estando protegidas pelos serviços mínimos, resta-lhes esperar que os pilotos apareçam. Caso contrário, ficarão em terra. Mas neste grupo também poderão estar incluídos os tais passageiros que, apesar de não terem cancelado a reserva, poderão já a ter dado como perdida.

Tanto os que confirmaram o cancelamento como estes que permanecem em dúvida puderam pedir a transferência do voo para datas alternativas ou a emissão de voucher da companhia de aviação, com a validade de um ano.

A TAP está a optar por identificar os voos que não deverá realizar, sem se referir a cancelamentos, visto que a suspensão a obrigaria a reembolsar os passageiros quando desconhece se haverá trabalhadores para assegurar a operação. A companhia acaba de publicar no seu site uma listagem dos mais de 80 voos que não deverá conseguir assegurar ao longo dos primeiros três dias de greve.


Só mesmo a pouco tempo de o voo descolar será possível confirmar que vai ser realizado. Caso não seja, a TAP será mesmo obrigada a cancelá-lo e a reembolsar os passageiros, que poderão pedir ainda uma indemnização à companhia.

Foi este o risco que a empresa decidiu correr quando percebeu, por um lado, que não tinha tesouraria para reembolsar todos os passageiros e, por outro, que poderia haver pilotos que não vão aderir aos protestos. E, por isso, desta vez possibilitou apenas a transferência de viagens para datas alternativas ou vouchers com um ano de validade.

A TAP esperava transportar cerca de 350 mil passageiros no período da greve, mas não se sabe ainda quantos optaram pela transferência e pelos voucher e quantos decidiram arriscar e comparecer amanhã no aeroporto, na expectativa de que o seu voo seja realizado.

Numa nota enviada às redacções, a companhia assume que esta paralisação “provocará enormes dificuldades aos passageiros com voos marcados”, lamentando “todos os transtornos causados aos clientes”.

O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, que convocou a greve entre 1 e 10 de Maio para exigir a devolução das diuturnidade suspensas desde 2011 e uma fatia entre 10% a 20% no capital da TAP, reafirmou nesta quinta-feira a intenção de avançar com os protestos.

Num comunicado em que convoca uma conferência de imprensa para as 20h, o sindicato refere que quatro horas depois “dá-se início à paralisação dos pilotos da TAP e da PGA de dez dias” e que “as deliberações das respectivas assembleias [que resultaram na convocação desta greve] serão cumpridas”.

Os pilotos dizem que “ao longo dos últimos meses superaram com determinação os mais exigentes obstáculos que lhes foram colocados”. E apontam como um dos maiores desafios a “propaganda encetada pelo Governo e pela TAP, caracterizada por falsidades, ameaças e chantagens, na tentativa desesperada de iludirem os trabalhadores e os portugueses”.

Os últimos dias têm sido, de facto, marcados por intensas trocas de palavras, vindas não só do Governo, mas também do próprio SPAC. Aliás, o sindicato acabou por enviar um novo comunicado logo a seguir à convocatória para a conferência de imprensa, com o qual pretende desmontar acusações feitas na quarta-feira à noite pelo secretário de Estado dos Transportes, na SIC.

Num vídeo enviado às redacções, o presidente do SPAC exige um pedido de desculpas a Sérgio Monteiro ou, caso este tenha provas das acusações feitas, que as apresente em tribunal. Mais um ponto de discórdia que afasta o Governo dos pilotos.

Nesta quinta-feira, a crítica mais vincada partiu do Presidente da República. Seguindo a linha de raciocínio do Governo, que veio alertar para a possibilidade de reestruturações profundas na companhia de aviação por causa da instabilidade laboral, Cavaco Silva disse “recear” que este possa ser o desfecho.

"Deus queira que na TAP não aconteça aquilo que aconteceu noutros países da União Europeia, em que as companhias de aviação foram forçadas a realizar despedimentos muito significativos e a cortar nas rotas. Mas, pelas informações que disponho neste momento, começo a recear que algo semelhante possa vir a acontecer na TAP", referiu, citado pela Lusa.

Mas a verdade é que este pingue-pongue mediático não foi benéfico para nenhuma das partes, visto que a tentativa de acordo saiu frustrada e a greve de dez dias continua de pé, num período muito delicado para a TAP em termos de tesouraria. 

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