Mármore, ferro e esperança

Lech Walesa é uma personagem de cinema interessante? Poucas sequências sacodem o filme ao marasmo – porque é um valente pastelão.

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Andrzej Wajda, decano do cinema polaco, já tinha filmado o Solidariedade e aludido a Lech Walesa, logo em 1981, no Homem de Ferro, um dos seus filmes mais célebres do seu período “tardio” (quer dizer, depois dos anos 50, e de filmes como Kanal e Cinzas e Diamantes, que Wajda nunca mais igualou).

Aqui assume o biopic de Walesa, e chama-lhe, no título original, o Homem da Esperança, assim explicitamente criando uma trilogia com o Homem de Ferro e o seu precedente, o Homem de Mármore.

A questão crucial aqui é esta: Lech Walesa, “herói” do anti-comunismo ou outra coisa qualquer, é uma personagem de cinema interessante? Se era, não é isso que Wajda faz dele – embora seja surpreendente que não se coíba de o pintar como um homem com uma faceta desagradável, sobretudo na vida privada. Mas o filme não lhe confere nenhuma densidade psicológica especial, e dividido entre a vida pessoal e a intervenção política também não investe esta última de nenhuma profundidade que ultrapasse a ilustração histórica. Vale pela agilidade com que integra imagens de época na ficção, nas poucas sequências que sacodem o filme ao marasmo – porque é um valente pastelão.

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