A grande marcha patriótica dos motards amigos de Putin pode ficar a meio
Grupo nacionalista russo quer celebrar derrota nazi na II Guerra Mundial em Berlim, mas Polónia garante que vai fechar as fronteiras.
Dezenas de motards do grupo russo Night Wolves estão a caminho de Berlim para recriar o percurso do Exército Vermelho que culminou, há 70 anos, com a rendição da Alemanha nazi. Mas num momento de alta tensão entre o Ocidente e a Rússia, a homenagem ameaça tornar-se num conflito diplomático.
Vestidos a rigor, com blusões de cabedal com a referência às “Estradas da Vitória, 1941-45”, os cerca de 30 membros do grupo saíram de Moscovo no sábado. O objectivo é chegar à capital alemã a 9 de Maio, data da rendição. Até lá, os motards vão passar por cinco países.
Mas a missão dos Night Wolves pode estar em risco. A Polónia já anunciou que vai impedir que dos motards cruzem a sua fronteira, com o argumento de que os vistos para entrar no país não foram requeridos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo também entrou na polémica para dizer que a justificação de Varsóvia é uma “mentira completa”, de acordo com a BBC. Para os organizadores da marcha, a recusa polaca trata-se de “histeria anti-russa”.
A Alemanha também poderá barrar a entrada do grupo, de acordo com uma fonte governamental, citada pela AFP, que refere a anulação de “vistos obtidos sob motivos falsos”.
A primeira-ministra polaca, Ewa Kopacz, já tinha criticado a iniciativa do grupo, que considerou “provocatória”. As narrativas em torno da ofensiva soviética contra o exército nazi em 1945 são bastante diferentes consoante os protagonistas – na Rússia, o episódio é encarado como um acto de heroísmo, determinante para definir a identidade do império soviético; na Polónia e noutros países da Europa central e de leste, a vitória do Exército Vermelho representou o início do domínio e a repressão soviética sobre esta região.
A carga histórica ganha hoje um novo relevo, com a degradação das relações diplomáticas entre a Rússia e a maioria dos países europeus por causa da crise ucraniana. Os países que pertenciam à chamada “Cortina de Ferro”, liderados pela Polónia, têm exercido as pressões mais elevadas para que a União Europeia condene de forma mais veemente o envolvimento russo na Ucrânia e aplique sanções mais fortes.
Os Night Wolves são um grupo nacionalista, que alimenta o saudosismo pelos sucessos da época soviética. O seu líder, Alexander Zaldostanov, também conhecido como “cirurgião”, é amigo pessoal do Presidente russo, Vladimir Putin, é uma das personalidades incluídas na lista de sanções dos governos dos Estados Unidos e do Canadá. Alguns membros do grupo estiveram na Crimeia no ano passado para apoiar a tomada dos principais edifícios da península por forças pró-russas. A Rússia acabou por anexar aquele território ucraniano, na sequência de um referendo não reconhecido pela Ucrânia nem pela UE.
Os “lobos” garantem que vão levar a cabo a sua marcha e devem alcançar a fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia esta segunda-feira de manhã, segundo o Wall Street Journal. Para o líder do grupo, a intenção das autoridades polacas é óbvia: “É uma tentativa de reescrever a história e tirar-nos a nossa vitória.”