Ed Miliband diz-se “pronto” a governar e promete aumentar salário mínimo

Líder dos trabalhistas britânicos garante que promessas eleitorais não obrigarão a maior endividamento e garantiu que “reduzirá défice todos os anos”. Sondagens são contraditórias.

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Miliband anunciou o objectivo de equilibrar as contas públicas na próxima legislatura OLI SCARFF/AFP

Ed Miliband, o líder trabalhista britânico, declarou-se “pronto” a ser o próximo primeiro-ministro e a “mudar o modo como o país é governado e para quem é governado”. Num discurso dominado por questões com incidência económica, prometeu, esta segunda-feira, a pouco mais de três semanas de eleições legislativas de 7 de Maio, aumentar o salário mínimo e reduzir o défice.

“Estou pronto. Pronto para acabar com a velha história de dizer que se ajudarmos os ricos e poderosos, tudo ficará bem”, disse em Manchester, na apresentação do manifesto eleitoral do Labour. Miliband procurou contrariar a ideia de que os assuntos económicos são a principal debilidade trabalhista. “Há um desafio para nós que é o de mostrar que seremos credíveis em matéria orçamental e de redução do défice”, reconheceu, porém.

Umas das propostas que ressalta do documento é a de aumentar o salário mínimo para mais de oito libras por hora (mais de 11 euros, ao câmbio actual) até ao final de 2019. Há poucas semanas, o Executivo de David Cameron, uma aliança entre conservadores e liberais-democratas, anunciou um aumento de 3% a partir de Outubro – o maior desde 2008. Na proposta governamental, passaria a ser de 6,70 libras por hora (mais de 9,27 euros) contra as 6,50 actuais.

O financiamento  do Serviço Nacional de Saúde com 2,5 mil milhões de libras (3,4 mil milhões de euros), em grande medida à custa de impostos sobre propriedades de valor superior a dois milhões de libras (mais de 2,7 milhões de euros), e o congelamento das tarifas do gás e da electricidade até 2017, são outras promessas, segundo a BBC.

Do manifesto constam ainda a redução das propinas universitárias de nove mil para seis mil libras anuais e o não-aumento do IVA, das contribuições para a segurança social e dos impostos sobre os rendimentos mais baixos e os mais elevados. A criação de facilidades para assistência à família por pais com filhos na escola básica é outra das intenções trabalhistas.

Miliband disse que as promessas não obrigarão a um endividamento adicional, garantiu que “reduzirá o défice todos os anos” e anunciou o objectivo de equilibrar as contas públicas na próxima legislatura. “Cada promessa que fazemos é uma promessa que podemos pagar”, declarou, citado pelo jornal The Guardian.

No discurso repetiu também, de acordo com a Reuters, uma ideia em que tem insistido: a de que o Labour é o partido de todos os britânicos e o Partido Conservador o dos britânicos ricos. Se os trabalhistas ganharem, os conservadores prevêem “um regresso ao caos económico” – Cameron falou no retorno aos “dias sombrios da dívida e do desperdício”.

Muitos eleitores não estão, pelo menos para já, convencidos da bondade das propostas trabalhistas, como confirmam vários estudos de opinião divulgados nesta segunda-feira. Um deles é particularmente desfavorável para o Labour, embora outros sugiram uma luta taco-a-taco.

Uma sondagem ICM para o Guardian atribui 39% aos conservadores, o seu melhor resultado desde Março de 2012. Os trabalhistas ficam-se pelos 33%. Mas um estudo YouGov publicado pelo Sun dá, ao contrário, vantagem ao Labour, 36% contra 33%. Uma sondagem Populus e outra conduzida pelo antigo dirigente conservador Michael Ashcroft atribuem 33% tanto a conservadores como a trabalhistas.

Um outro estudo, sobre a tendência de voto na Escócia, que pode ser determinante para o resultado final no Reino Unido, mostra que o partido nacionalista SNP vai à frente, com 52%. Na sondagem, feita pela TNS, o apoio ao Labour cai seis pontos, para 24%.

Um mau desempenho dos trabalhistas na Escócia, onde tradicionalmente têm boas votações, pode comprometer uma vitória do partido de Milliband. Num cenário sem maiorias absolutas, os nacionalistas podem ter uma palavra decisiva no desenho do futuro Governo. É esse papel de “fazedores de reis” que procuram, meses depois do referendo que ditou o triunfo do “não” à independência.

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