Transformar o crescimento económico com a Internet das Coisas

A Internet das Coisas irá criar novos mercados desencadeando uma nova era de serviços de inovação, capazes de gerar novos fluxos de receita aos fabricantes e aos fornecedores dos sectores industriais.

Numa altura em que o mundo tenta deixar para trás um período de pouca procura e crescimento tímido da produtividade, existe uma expectativa real de que uma nova vaga de inovação tecnológica possa vir a revitalizar a economia global. Encabeçando esta expectativa vemos a Internet das Coisas ou Industrial Internet of Things (IIoT). O poder disruptivo das ligações entre milhões de dispositivos móveis pode vir a ser o maior motor de crescimento económico e de criação de emprego da próxima década. Há, no entanto, que saber capitalizar esta oportunidade na sua plenitude.

A Internet das Coisas irá criar novos mercados desencadeando uma nova era de serviços de inovação, capazes de gerar novos fluxos de receita aos fabricantes e aos fornecedores dos sectores industriais. De acordo com um estudo recente da Accenture, o impacto irá estender-se a dois terços da economia mundial, podendo vir a contribuir com mais de 14 mil milhões de dólares para as 20 maiores economias do mundo durante os próximos 15 anos. Existe assim perspectiva de que este impulso para as economias maduras seja um factor que contribua para um maior equilíbrio da balança comercial global, com as economias emergentes.

A “Internet das Coisas” já chegou, o que vamos ver de diferente

Actualmente, a orientação por GPS, as apps de serviços de saúde nos smartphones e outros dispositivos móveis tornam a vida mais prática para todos. O mundo industrial ainda não capitalizou em larga escala o potencial. Até agora, as empresas têm utilizado a Internet das Coisas fundamentalmente com o intuito de aumentar a eficiência, pela redução de custos e melhor gestão do risco. Por exemplo, as refinarias de petróleo protegem os seus trabalhadores ao equipá-los com dispositivos móveis com sensores de gás que accionam um alarme em situações de risco. Também na indústria mineira, equipamentos com controlo remoto permitem fazer escavações com maior precisão e com melhor rentabilidade.

O próximo degrau de evolução passa por desbloquear fluxos e surge através da valorização dos dados que podem ser captados e partilhados por dispositivos móveis inteligentes. Desta forma, as empresas industriais têm uma oportunidade dourada para irem além da venda de produtos, passando para modelos de remuneração baseados na prestação de serviços, como disponibilidade e rentabilização de activos. É a economia dos resultados, onde se procura a entrega de resultados quantificáveis e adaptados às necessidades dos clientes em vez da utilização de produtos ou serviços básicos.

As tendências no mundo digital passam pela automatização das tarefas do dia-a-dia, mas também pela criação de novos mercado,s permitindo aos profissionais desenvolverem tarefas mais complexas. Tal permite não só criar novas categorias de empregos, como aumenta o grau de sofisticação dos postos de trabalho, inspirando uma maior colaboração que é fundamental na economia de resultados.

Como vemos a maturidade das organizações

A grande maioria das organizações não está ainda preparada para potenciar estas oportunidades. Num inquérito da Accenture a mais de 1400 executivos de topo, apenas 7% desenvolveram estratégias nesta área consistentes com os investimentos efectuados, enquanto 71% reconhecem que as suas empresas têm ainda de fazer progressos concretos relativamente à Internet das Coisas.

Este arranque lento pode dever-se ao facto de muitos países não disporem de todas as condições de base para que esta revolução possa revitalizar as suas economias. A análise da Accenture mostra que podemos esperar um aumento de 2% do PIB nos EUA, nos Países Nórdicos e na Suíça até 2030, enquanto o impacto na Europa do Sul se fica pela metade. Esta diferença é explicada pela qualidade das infra-estruturas, capacidades tecnológicas e de inovação, bem como a facilidade para criar novos negócios.

Uma boa comparação é a introdução da electricidade. Os Estados Unidos lideraram a aplicação da electricidade na economia, transformando a produção industrial numa primeira instância e depois passando à disrupção dos modelos de negócio, criando novos mercados como o dos electrodomésticos ou o do software. A Internet das Coisas representa uma oportunidade equivalente para transformar as economias.

Para a IIoT ser potenciada como força impulsionadora da produtividade e do crescimento, os líderes empresariais e governamentais devem trabalhar juntos em três áreas-chave: 1. Devem preparar-se para modelos organizacionais que quebrem as actuais barreiras das cadeias de valor e que favoreçam a colaboração entre as organizações e desta forma a partilha de resultados. 2. Precisam de colaborar entre sectores de actividade no estabelecimento de standards de segurança e a interoperabilidade de dados e equipamentos, assim como na criação de modelos virtuosos de utilização de informação e partilha de dados. 3. Por fim, eles terão de investir em novas competências que se adaptem a um ambiente de trabalho que concilie cada vez mais a dimensão humana e digital.

O potencial da Internet das Coisas para promover maior inovação e crescimento é claro. É agora necessário que as empresas e os governos estabeleçam acções concretas que promovam a sua efectiva adopção por forma a potenciar o crescimento económico.

Senior manager da Accenture Strategy

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