Proposta de intervenção na Líbia divide União Europeia

Responsável pela política externa da UE, Federica Mogherini, propõe envio de soldados se as negociações de paz tiverem sucesso, mas alguns países temem ser arrastados para "uma nação extremamente volátil".

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Os militares europeus teriam como principais tarefas assegurar a manutenção de um cessar-fogo e proteger aeroportos Goran Tomasevic/Reuters

O processo de desintegração da Líbia, com os seus dois governos em simultâneo, múltiplas alianças de conveniência e uma presença cada vez mais ameaçadora do auto-proclamado Estado Islâmico, continua a fazer o seu caminho em direcção ao precipício dos Estados falhados.

Apesar do pessimismo com que a maioria dos analistas olha para a situação no terreno, a responsável pela política externa da União Europeia (UE), a italiana Federica Mogherini, está a tentar convencer os seus parceiros a autorizarem o envio de soldados europeus para o país, se as mais recentes negociações de paz mediadas pelas Nações Unidas tiverem sucesso.

A ideia de Mogherini foi avançada neste domingo, e será um dos temas em discussão no encontro dos ministros dos Negócios dos Estrangeiros da UE, que vai decorrer na segunda-feira em Bruxelas.

Como a maioria dos países europeus não tem uma ideia clara do que deve ser feito para lidar com o caos na Líbia, o máximo que os ministros deverão fazer é autorizar Federica Mogherini a elaborar um plano para uma possível intervenção no país, num futuro que ninguém sabe se e quando chegará.

Os mais recentes esforços da missão das Nações Unidas na Líbia até nem começaram mal, com o enviado Bernardino León a conseguir juntar representantes das duas principais facções em confronto na guerra civil no país – um governo eleito em 2014, refugiado em Tobruk, no Leste, e reconhecido internacionalmente; e um governo estabelecido em Trípoli, constituído por múltiplas facções islamistas, das mais moderadas às mais radicais, com o apoio das milícias de Misurata.

Depois de uma ronda de conversações entre os dias 5 e 7 deste mês, esperava-se que os representantes dos dois lados voltassem a encontrar-se no final da semana passada, mas o governo de Tobruk foi pedindo adiamentos sucessivos – o regresso à mesa de negociações, em Marrocos, está agora marcado para a próxima quinta-feira.

É com base no eventual sucesso destas negociações que Federica Mogherini defende o envio de soldados europeus para a Líbia, para apoiarem o processo de formação de um governo de unidade nacional.

Os militares europeus teriam como principais tarefas assegurar a manutenção de um cessar-fogo, proteger aeroportos e outras infra-estruturas vitais e controlar um embargo ao envio de armas para as facções em guerra, detalhou a agência Reuters.

Mas a postura mais intervencionista de Mogherini e da sua Itália, que é secundada apenas por França, tem sido vista com relutância pelos restantes Estados da UE, preocupados com as possíveis consequências de serem arrastados para um país onde o autoproclamado Estado Islâmico tem feito notar a sua presença de forma particularmente violenta – em meados de Fevereiro, o grupo decapitou 21 cristãos coptas egípcios numa praia do Mediterrâneo.

"Gostaríamos de ver um acordo [na Líbia], e gostaríamos também de ver os pormenores de uma operação das Nações Unidas antes de nos comprometermos politicamente com planos que seriam arriscados e que nos levariam para um país extremamente volátil", disse à Reuters um diplomata europeu que a agência citou sob a condição de não revelar a sua identidade.

Seja qual for a decisão da União Europeia, qualquer intervenção externa na Líbia depende de um mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas – onde a Rússia e a China poderão exercer o seu direito de veto – e de um pedido oficial do governo do país refugiado em Tobruk.

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