Grécia vai pedir extensão do empréstimo mas não do programa da troika

Wolfgang Schäuble insiste que o que está em causa é se a Grécia vai ou não cumprir o programa de resgate.

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Yanis Varoufakis, ministro das Finanças grego EMMANUEL DUNAND/AFP

O Governo grego vai pedir já nesta quarta-feira à zona euro a extensão do prazo do seu acordo de empréstimo, avançou à Reuters uma fonte de Bruxelas, distinguindo, no entanto, este pedido de um prolongamento do programa de assistência da troika. Uma informação corroborada por uma fonte do Governo grego, citada pela AFP.

A fonte de Bruxelas explicou que Atenas vai pedir uma extensão do empréstimo por seis meses mas que a aceitação da proposta e as eventuais condições desse prolongamento ainda estão a ser discutidas.

O Governo liderado por Alexis Tsipras tem recusado desde o início estender o actual programa da troika, que termina a 28 de Fevereiro, embora o primeiro-ministro grego tenha insistido nesta terça-feira na diferença entre um empréstimo e um resgate.

Estas informações avançadas por fontes dos dois lados são o primeiro sinal de alguma aproximação, depois de o Eurogrupo ter dado até ao final da semana para a Grécia pedir a extensão do seu programa da troika

No entanto, ao final da noite desta terça-feira, a Reuters reproduzia uma primeira reacção da Alemanha, antecipando um novo choque com os gregos. "[A questão] não é sobre uma extensão do programa de crédito, mas sim sobre se este programa de resgate vai ser cumprido: sim ou não", disse Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão, à televisão ZDF.

As declarações de Schäuble enquadram-se mais na retórica de confronto que foi a nota dominante desta terça-feira, com palavras duras de parte a parte.

O porta-voz do Governo grego começou por dizer que a Grécia "não se deixa chantagear com ultimatos”. E depois de Schäuble ter afirmado antes da reunião do Eurogrupo “ter pena” dos gregos que elegeram um Governo “irresponsável”, Tsipras respondeu na mesma moeda, declarando aos deputados do Syriza que o ministro alemão “perdeu a calma” durante a reunião e que teria tecido considerações insultuosas sobre a Grécia.

A Europa, com Schäuble e Jeroen Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo, à cabeça, tem insistido até agora que os gregos devem aceitar uma extensão temporária do programa de resgate actual, com o conjunto de condições inalterado, antes de começarem qualquer negociação sobre um novo programa.

Uma opção que parecia ser inaceitável aos olhos do Governo grego. “Para nós, o velho programa morreu”, disse Alexis Tsipras, numa entrevista à revista alemã Stern, publicada nesta terça-feira. O primeiro-ministro grego afirmou que não tem um plano B: “Vamos ficar no euro, mas não atingiremos esse objectivo à custa dos mais fracos.”

O seu Governo pretende ver votado na sexta-feira um pacote de medidas sociais que “vão confortar os trabalhadores, os desempregados, as pequenas e médias empresas, e vão relançar a economia.” É nesse mesmo dia que acaba o prazo dado pelos parceiros europeus à Grécia para pedir uma extensão do programa assistência financeira.

O comissário responsável pelo euro, o letão Valdis Dombrovskis, repetiu após a reunião do Ecofin que o executivo comunitário apenas trabalha com o cenário “mais realista”, a saber “a extensão do programa existente”. Sensivelmente o mesmo que disse Dijsselbloem à saída do encontro.

Mas foi Schäuble quem teve as declarações mais duras. Nesta terça-feira, um dia em que “houve poucos progressos”, afirmou que muitos dos seus colegas, e ele próprio, ainda não percebem exactamente quais são as exigências dos gregos, e afirmou ironicamente que não sabe se Tsipras e o seu “famoso economista” (como chamou a Varoufakis) sabem realmente o que querem.

Também não poupou as críticas à atitude do Governo grego, que decidiu aumentar as reformas mais baixas e o salário mínimo. Relatou que um dos ministros do Eurogrupo confrontou Varoufakis durante a reunião de segunda-feira com o facto de as pensões e salários no seu país serem ainda mais baixos do que na Grécia.

Notícia actualizada às 23h59, com primeira reacção de Schäuble ao pedido grego

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