"Não podemos ficar a assistir ao colapso do Iémen”

Nos últimos dias, a Al-Qaeda capturou o quartel-general de uma brigada do Exército na província de Shabwa, uma área importante de produção de petróleo no Sudeste do país.

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França, Alemanha e Itália foram os últimos países europeus a retirarem os seus cidadãos do país

Depois de norte-americanos, britânicos, franceses, alemães e italianos, sexta-feira foi a vez de os sauditas retirarem do Iémen todo o seu pessoal diplomático e encerrarem a embaixada na capital. Cronicamente instável, o mais pobre dos países árabes encontra-se em risco de desintegração, sem um governo em funções e com diferentes grupos que combatem entre si, apoiados por pesos-pesados – como a Arábia Saudita, de um lado; e o Irão, do outro –, enquanto a Al-Qaeda na Península Arábica, que ali tem o seu quartel-general, tenta aproveitar para se fortalecer.

“Sejamos claros. Não podemos contentar-nos em ficar a assistir ao colapso do Iémen”, afirmou num debate sobre a situação no país o secretário-geral das Nações Unidas. Ban Ki-moon sublinhou os “desafios” que o Iémen enfrenta, incluindo “uma perigosa crise política, “tensões separatistas crescentes no Sul” e “uma grave crise humanitária” que afecta já 16 milhões de pessoas numa população de 25,5 milhões. Todos estes desafios, afirmou, constituem “uma ameaça para a paz e a segurança regional e internacional”, disse Ban, apelando a que seja feito tudo para ajudar os iemenitas a “restaurarem o processo político”.

Ban falava do processo iniciado em 2012, depois de um ano de protestos populares contra o antigo ditador, Ali Abdullah Saleh, autocrata que governou o país durante 31 anos (primeiro só no Norte, ficou depois da guerra civil, da reunificação e da segunda guerra como líder de todo o Iémen). Com a ameaça da Al-Qaeda a crescer, Saleh tornou-se um aliado importante para os Estados Unidos. Obrigado a abandonar a chefia do Estado, houve eleições, mas os iemenitas só puderam votar no nome do vice de Saleh, Abdu Mansour Hadi, candidatura que resultou de um acordo negociado pelos países do Golfo para pôr fim à violência.<_o3a_p>

Nunca resultou. A desestabilização chegou aos níveis actuais por causa dos avanços dos huthis, um grupo zaidita (facção do xiismo) do Norte que já entrara em guerra com Saleh em 2004 e em 2009. É por causa dos huthis, apoiados pelo Irão, que países árabes como a Arábia Saudita enviam armas e dinheiro para tribos sunitas do país. Riad teme o aumento do poder xiita, que os iranianos promovem no Iraque e no Líbano, e tentam salvar na Síria, apoiando Bashar al-Assad.<_o3a_p>

Em Setembro, os huthis entraram na capital. Em Janeiro, deram Sanaa por controlada e na semana passada assumiram o poder, depois das demissões do Presidente Hadi e do executivo do primeiro-ministro Khaled Baha. Sexta-feira, à saída das orações sucederam-se manifestações a favor e contra os huthis.<_o3a_p>

Os huthis são anti-americanos, mas apoiam as operações de contraterrorismo que os Estados Unidos mantêm no país. Washington acusou-os de se apoderarem dos veículos que os seus funcionários deixaram abandonados no aeroporto, mas a liderança huthi diz que se limitou a guardar as viaturas e quer entregá-las a quem puder protegê-las, como a ONU. O seu inimigo declarado é a Al-Qaeda que, por sua vez, aproveitou os avanços dos huthis para de declarar defensora dos muçulmanos sunitas (dois terços dos habitantes).<_o3a_p>

Nos últimos dias, a Al-Qaeda conseguiu capturar o quartel-general de uma brigada do Exército que ainda seria leal a Hadi na província de Shabwa, uma área importante de produção de petróleo no Sudeste do país. Depois de imporem o seu poder do Norte e em grande parte do Centro do Iémen, os huthis têm tentado estendê-lo ao Sul e ao Leste, mas enfrentam a resistência de unidades militares fiéis a Hadi ou a diferentes líderes tribais. <_o3a_p>

É difícil distinguir os lados em confronto – na terça-feira, os huthis conquistaram a província de Bayda, a sul de Sanaa, com a ajuda de tropas ainda leais a Saleh (um zaidita que sempre teve nos sunitas a sua base de poder). “Qualquer tentativa dos huthis para tomar o Sul vai provocar uma secessão” da antiga nação independente, diz à Associated Press o analista iemenita Baraa Shiban. <_o3a_p>

Para além de Riad, o Egipto também admite intervir: o Cairo já tem uma força de resposta rápida preparada caso os huthis interfiram com a estratégica rota do Mar Vermelho, a entrada do corredor que segue pelas costas saudita e egípcia até ao Canal do Suez. Sauditas e egípcios têm fortalecido a sua relação desde o golpe que levou o antigo militar Abdel Fattah al-Sissi à presidência, realizando uma série de exercícios militares conjuntos, incluindo no Mar Vermelho.<_o3a_p>

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