Contra o esquecimento

À medida que uma mulher vai perdendo a memória, o filme vai cuidando de si próprio, das suas personagens contrariando o perigo do filme-veículo, que seria o perigo da sua própria irrelevância.

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Centrar as atenções em Julianne Moore, para repetir as mesmas frases de ambição lapidar que não dão elasticidade à imaginação – e a memória também deve estar fraca: afinal, na carreira da actriz, Safe aconteceu em 1995, Boogie Nights em 1997... –, é perder uma parte de O Meu Nome é Alice.

A história de uma mulher, professora de linguística, a quem é diagnosticada uma forma rara e precoce da doença de Alzheimer dá aqui um pequeno filme. Daqueles, é verdade, em que a delicadeza também o protege da excessiva exposição dos seus limites. Mas é um filme que não se esquece de cuidar de si nem das suas personagens: isto é, não se esquece da família de Moore. Isto para não se esquecer de si próprio. À medida que uma personagem vai perdendo a memória, o filme vai fazendo algo para se preparar para esse desaparecimento. Dessa forma contrariando o perigo do filme-veículo, que seria o perigo da sua própria irrelevância. É uma forma de se lembrar de um património, o da família como microclima de intensas e incontroláveis energias, de súbitas mudanças de temperatura, tal como o conhecemos antes da migração para o caso da vida televisivo – e que talvez tenha tido um dos seus cantos de cisne no íntimo e monumental, no gélido e feroz Kramer contra Kramer (1979),de Robert Benton. 

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