Estado só ganhou dinheiro com dois imóveis. E um foi vendido ao... Estado

Os únicos oito negócios da imobiliária do Estado com privados em 2014 foram fechados com um prejuízo global de quatro milhões.

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Vendas que mais encaixe geraram foram protagonizadas por investidores chineses Rui Gaudêncio

Os nove negócios que a imobiliária do Estado conseguiu fechar em 2014 renderam quase 12 milhões de euros, mas apenas dois geraram mais-valias. E aquele em que a empresa conseguiu fazer mais dinheiro foi na venda de um imóvel a um fundo de capitais públicos. Nos restantes casos, o desconto médio foi de 27% face ao valor da compra, o que significou um prejuízo global de quatro milhões de euros.

A Estamo, uma empresa do universo Parpública que foi absorvendo património do Estado e gerando receitas aos cofres públicos, tem tido dificuldades nos últimos anos em escoar imóveis, fruto da crise no mercado imobiliário. No ano passado, foram apenas nove os imóveis de que se conseguiu desfazer, quando em 2013 tinha sido capaz de vender 25 activos.

Mas nesse ano, apesar de o encaixe ter sido superior a 40 milhões de euros, a Estamo só conseguiu atrair um investidor privado – uma sociedade agrícola que desembolsou quase dois milhões por um estabelecimento prisional em Alcoentre, que tinha custado quase mais 350 mil euros à imobiliária do Estado, quando o adquiriu em 2006. Em 2014, o panorama dos investidores mudou completamente, surgindo apenas uma compra feita por uma entidade pública. Foi, porém, esse o negócio que mais dinheiro rendeu.

Os dados divulgados pela Estamo mostram que a transacção gerou uma mais-valia de quase 1,2 milhões de euros, já que o imóvel em causa, um prédio na Rua da Atalaia (em Lisboa), tinha sido comprado à Câmara Municipal por apenas 350 mil euros e foi vendido por mais de 1,5 milhões. O comprador foi o fundo Imopoupança, que é gerido pela Fundiestamo (empresa de investimento imobiliário que também integra o grupo estatal Parpública).

Quando a Estamo adquiriu o imóvel, em Novembro de 2010, o objectivo sempre foi aliená-lo a médio prazo. No contrato de venda que firmou com a autarquia da capital, referia-se que o prédio, que estava arrendado ao Ministério da Administração Interna para albergar uma esquadra, iria ser alvo de obras de reabilitação antes da venda, o que veio a acontecer em meados de 2014. Contactada pelo PÚBLICO, a Parpública confirmou que o imóvel “foi entretanto objecto de obras para o arrendar e só posteriormente foi alienado”.

Vender com prejuízo
Excluindo o imóvel vendido à Fundiestamo, todas as restantes oito transacções de 2014 foram fechadas com privados. Porém, apenas uma delas gerou lucros: a venda de um prédio no centro de Lisboa por 573 mil euros (praticamente mais 90 mil euros do que o valor a que tinha sido comprado, em 2010). Todos os restantes negócios foram concretizados com prejuízo para a Estamo.

No conjunto, as vendas a privados foram fechadas com um desconto médio de 27%, o que correspondeu a uma perda global de quase quatro milhões de euros. Os oito imóveis tinham sido comprados pela imobiliária estatal por um total de 14,2 milhões de euros, mas a sua alienação rendeu apenas 10,4 milhões.

A maior perda, em termos percentuais, foi registada na venda de um prédio na Rua de São Bento, em Lisboa, com um desconto de quase 50%. O comprador, uma sociedade imobiliária privada, pagou pouco mais de 1,2 milhões de euros, quando o imóvel tinha custado mais de 2,4 milhões à Estamo em 2006.

A Parpública afirmou que “como tem sido evidente, o sector imobiliário tem atravessado uma crise desde há vários anos, implicando a baixa contínua dos preços dos imóveis”. E acrescentou que “este factor reflectiu-se na contabilidade das empresas”, explicando que “anualmente todos os imóveis são objecto de uma avaliação efectuada por empresas certificadas pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, situação que tem gerado imparidades na grande maioria dos imóveis da Estamo e que têm vindo a ser assumidas nas contas da empresa”.

Apesar da perda de valor face ao preço a que comprou estes imóveis, o grupo estatal frisou que as transacções foram concretizadas “por valores superiores aos registados na contabilidade em 2013”, resultando “numa margem bruta das vendas superior a 1064 mil euros”. Não esclareceu, porém, em que transacções obteve esta mais-valia.

Os dois negócios imobiliários que mais contribuíram para o bolo de 10,4 milhões arrecadado pela Estamo no ano passado foram fechados com investidores de origem chinesa. O mais importante foi a venda de um imóvel na Rua Braamcamp (Lisboa), que a Estamos tinha adquirido em Setembro de 2006 por pouco mais de quatro milhões e que foi agora vendido por 3,1 milhões à KSHG - Real Estate Investments, detida por um empresário chinês com interesses no ramo imobiliário. E o outro foi a alienação de outro prédio na capital, na Rua de São Domingos à Lapa, por 2,5 milhões (quase meio milhão abaixo do valor de compra). O investidor, neste caso, foi a EMGI - Investment Group, que tem a empresa-mãe na China.

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