A aventura de “King Kazu” continua aos 47 anos

A primeira grande “estrela” internacional do futebol japonês ainda está no activo, ao serviço de uma equipa da segunda divisão do seu país.

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Miura esteve no Sydney FC em 2005 Will Burgess/Reuters

O jogador mais velho da segunda divisão portuguesa tem 39 anos. Tiago Pereira ainda é um titular indiscutível no Trofense, equipa que luta para não descer, depois de uma longa carreira que teve passagens por Marítimo, Benfica, FC Porto, Boavista e União de Leiria. Fary Faye, avançado senegalês de 40 anos, é o mais velho da I Liga, mas já é uma presença quase decorativa no plantel do Boavista.

Ainda assim, qualquer um deles fica a dever quase uma década ao avançado Kazuyoshi Miura, que está a menos de um mês de fazer 48 anos e prepara-se para jogar mais uma época ao serviço do Yokohama FC, da segunda divisão japonesa. Só a sua longevidade faria de “King Kazu” uma história extraordinária, mas a sua vida é muito mais que isso. Não haverá, por exemplo, muitos futebolistas no mundo que se possam orgulhar de terem jogado em equipas de quatro continentes diferentes.

Em 2015 já há muitos jogadores japoneses a jogar fora do seu país (só em Portugal, segundo o site zerozero.pt, são sete, seis deles no futebol e um deles no futsal), mas em 1982 não haveria muitos, se é que havia algum. Foi quando Kazu Miura, então um adolescente de 15 anos, foi sozinho para São Paulo, no Brasil, para tentar o seu sonho de ser futebolista profissional. Começou na formação do Clube Atlético Juventus e, em 1986, assinou um contrato profissional com o Santos, clube de Pelé e que seria também (bastante depois) de Neymar. Até 1990 Miura ainda jogou em mais cinco clubes, entre eles Palmeiras e Curitiba, mas nunca com um impacto espectacular. Para os brasileiros seria mais uma curiosidade, mas para Miura era uma aprendizagem preciosa.

Com oito anos de futebol brasileiro nas pernas, Miura voltou ao Japão para se tornar uma “estrela”, não apenas no seu país, mas com impacto internacional, assumindo-se como um avançado goleador no Verdy Kawasaki. Foi o primeiro japonês a ser eleito o melhor jogador da Ásia (em 1993), um das muitas distinções que tem coleccionado ao longo da carreira. Uma nova aventura internacional aconteceu em 1994, quando se transferiu para o Génova, tornando-se no primeiro japonês a jogar e a marcar na Série A italiana. Infelizmente para ele, só marcou um golo. Voltou ao Japão para mais quatro épocas e ainda regressou em 1999 ao futebol europeu, para o Dínamo Zagreb, mas marcou ainda menos golos do que em Itália.

Miura é o sexto jogador mais internacional de sempre pelo Japão (89 jogos) e o segundo melhor marcador (55 golos), mas em dez anos nunca conseguiu jogar um Mundial pelos “Samurais Azuis”. Ou melhor, nunca esteve num Mundial de futebol. Miura ainda conseguiu um lugar na selecção nipónica de futsal que esteve no Mundial da Tailândia em 2012 – Portugal foi uma das selecções que Miura defrontou.

A sua capacidade goleadora foi diminuindo com o passar dos anos, mas no Japão nunca lhe faltou trabalho. Em 2005, ainda experimentou o futebol de mais um continente, nos australianos do Sydney FC, mas também sem grande consequência. Desde 2006 que joga no Yokohama FC, sendo que apenas uma época foi na primeira divisão da J-League. Em Dezembro passado, apesar de ter apenas participado em apenas quatro jogos, Miura renovou o seu contrato para mais um ano com o Yokohama. A época da J-League 2 começa a 8 de Março, 11 dias depois da festa do 48.º aniversário de “King Kazu”.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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