Até que ponto o desemprego afecta a relação com o pai?

“Há menos dinheiro em casa” e “valorizo mais o que tenho”. Alguns dos impactos da crise reportados pelos adolescentes em 2014.

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Os jovens falam sobre o impacto de os pais estarem desempregados José Sarmento Matos

A crise económica que o país atravessou não passou ao lado dos adolescentes. Mais de metade dos que têm o pai desempregado dizem que isso afectou o seu bem-estar emocional e 15% afirmam que o impacto foi “bastante” ou “muito” significativo.

Para cerca de um quarto dos jovens a própria relação que tinham com o pai foi afectada, sendo que muitos explicam que não sabem dizer em que medida isso aconteceu — simplesmente sentiram que aconteceu; 10% acham claramente que mudou para pior e 29,6% para melhor (eventualmente porque o pai agora tem mais tempo). O desemprego da mãe parece ter menos impacto (apenas 17% dos jovens acham que a relação deles com a mãe desempregada mudou).

São dados do estudo divulgado nesta sexta-feira sobre A Saúde dos Adolescentes Portugueses, feito com base em cerca de 6000 inquéritos a alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos de escolas de Portugal continental.

A crise também fez mudar atitudes e comportamentos, dizem os adolescentes. Contam que por causa dela passarem a “valorizar mais” o que têm (50,9%). Mas não só.

Eis outras resposta dadas por muitos: “Passei a poupar mais, por exemplo, no dinheiro que me dão, na luz e água ou noutros gastos” (40,7%); “Há menos dinheiro em casa” (39,8%); “Dou mais importância a conseguir tirar boas notas e ao estudo” (38%); “Há menos saídas em família” (37%); “Quando pensamos em fazer, eu e os meus amigos, tendemos a escolher coisas que não nos façam gastar dinheiro” (33,8%) e “Sinto que os meus pais precisam mais da minha ajuda” (30,9%).

Mais de 20% acham que os pais andam mais nervosos e irritados, 1,4% dizem que, por causa, da crise se mudaram para casa dos avós.

Dos cerca de 6000 inquiridos, um em cada dez disse que o pai não tem emprego e 20,5% referiram ter a mãe desempregada.

A Saúde dos Adolescentes Portugueses foi feito por uma equipa coordenada pela investigadora Margarida Gaspar de Matos, que inclui membros da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa, e do Centro da Malária e Doenças Tropicais, da Nova de Lisboa. Recebeu o financiamento da Direcção-Geral de Saúde. E deverá integrar o grande retrato internacional da adolescência, conhecido por Health Behaviour in School-aged Children, da Organização Mundial de Saúde, no qual participam mais 42 países.

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