Bonello não inferniza a “haute couture”

Um “biopic” de YSL mais convencional do que, muito provavelmente, pretenderia.

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Alguma coisa do bordel de Apollonide (o anterior filme de Bonello), com o seu ambiente muito “fin-de-siècle”, muito cheio de pulsões de sinal contrário, passa para este olhar sobre a alta roda parisiense e o lugar de Saint Laurent dentro dela.

É ainda a obsessão, o irracional das pulsões (criativas, em primeiro lugar, neste caso), aquilo que move o cineasta, paredes meias com o cheiro a “flores do mal”. A questão é que, arriscando jogar com os códigos do ambiente em causa (a superficialidade borbulhante da “haute couture”), desta vez Bonello não os vira inteiramente a seu favor, não os subverte nem os “inferniza” com a mesma convicção com que em Apollonide transformava o sulfuroso (o bordel) num espaço habitável e, até, provido de calor e conforto. O filme parece-se mais com um “biopic” convencional do que, muito provavelmente, pretenderia, e portanto fica sempre a meio caminho, num sítio “entre” que não sendo desinteressante, também não entusiasma muito.

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