Portátil Magalhães foi um "fracasso" em actividades lectivas de Matosinhos

Estudo da Universidade Portucalense (UPT) realizado junto da comunidade escolar de Matosinhos concluiu que a integração do computador portátil Magalhães nas actividades lectivas locais "foi um fracasso".

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Daniel Rocha (arquivo)

O estudo da Universidade Portucalense (UPT), que analisou 682 agentes educativos – 400 alunos, 181 encarregados de educação e 101 professores – do 1º ciclo do ensino básico do concelho de Matosinhos, concluiu "que não houve um retorno imediato por parte das instituições escolares, que apenas utilizavam o Magalhães de forma esporádica dentro do contexto de sala de aula". "Os resultados deste estudo permitem-nos verificar que 89,1% dos professores, 84,5% dos encarregados de educação e 86% dos alunos consideram que nunca ou raramente o computador é utilizado nas salas de aula”, adianta o comunicado que cita João Paulo da Silva Miguel, autor do estudo realizado no âmbito do doutoramento em Educação da UPT.

“A primeira grande ilação que podemos retirar é de que o portátil ‘Magalhães’ serviu mais como um apoio simples e não como um recurso central de inovação pedagógica", refere ainda o comunicado.  O trabalho concluiu também que os professores "precisam de adquirir e desenvolver competências para poderem utilizar" este computador portátil, que surgiu a partir de 2008, quando o governo de então, liderado pelo socialista José Sócrates, decidiu integrar o Magalhães no Plano Tecnológico da Educação. A iniciativa destinou-se aos alunos do 1.º ciclo do ensino básico público e privado, através da disponibilização gratuita ou a preços reduzidos (num máximo de 50 euros) de computadores portáteis Magalhães, que traziam instados 'software' e conteúdos educativos digitais seleccionados pelo Ministério da Educação, bem como o acesso à internet em condições especiais através das operadoras de telecomunicações móveis.

O estudo da UPT permitiu ainda concluir que "os alunos, de forma autónoma, intuitiva e produtiva, foram descobrindo [através do Magalhães] novas competências, como se pode demonstrar pela facilidade na exploração das interligações entre várias realidades mediáticas, tais como jogar, fazer pesquisas, ouvir música ou navegar na internet". João Paulo Miguel acrescenta que "houve falta de liderança, envolvimento e incentivo por parte dos directores dos agrupamentos [escolares], falta de salas apetrechadas com tomadas e com ligação à internet, falta de assistência técnica aos portáteis, que avariam com frequência e facilidade, e falta de modelos/tipos de planificação que integrem o Magalhães nas actividades lectivas e nos currículos dirigidos" aos alunos em causa.

Para o autor, o estudo permite, de um modo geral, verificar que o acesso a ambientes tecnológicos, por si só, não é suficiente para o sucesso, uma vez que existe necessidade que a escola forme alunos autónomos, críticos e criativos dotados de capacidade para usarem as tecnologias. os autores consideram que "existe uma dificuldade, por um lado, por parte dos alunos, em preservar os portáteis ‘Magalhães’ em termos funcionais, e por outro, por parte dos professores, pela falta de coordenação do projeto, uma vez que se sentiram sozinhos e sobrecarregados com a burocracia e as avarias dos computadores".

"A ideia da distribuição massiva dos Magalhães, com finalidade de democratização do acesso às tecnologias e sua implementação no quotidiano das salas de aula para preparação do cidadão para o futuro, parece estar voltada ao fracasso. Existe um longo caminho a percorrer para valorizar o esforço financeiro que foi aplicado e permitir que as tecnologias sejam incluídas de forma transversal nos currículos, surgindo nas escolas do 1.º ciclo de uma forma sistemática e planeada, em vez de pontual e espontânea", frisou o autor do estudo.

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