Candidato da oposição surpreende e nega ao primeiro-ministro romeno a vitória nas presidenciais

Klaus Iohannis pertence à minoria de origem germânica e promete dar prioridade à luta contra a corrupção.

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Iohannis venceu as eleições com mais de 54% dos votos, recuperando de uma desvantagem de quase dez pontos para Victor Pontas na primeira volta das presidenciais Radu Sighet/Reuters

Apoiado por dois partidos da oposição conservadora, Klaus Iohannis arrebatou uma vitória surpreendente nas presidenciais de domingo na Roménia, batendo o primeiro-ministro, Victor Ponta, o mais votado na primeira volta das eleições e a quem as sondagens atribuíam o favoritismo.

“Somos uma democracia, as pessoas têm sempre razão”, disse o chefe do executivo à saída da sede do Partido Social Democrata, domingo à noite, sem esperar pelo fim da contagem dos votos para reconhecer a derrota. Victor Ponta assegurou, no entanto, que não tem planos para se demitir, dizendo que os sociais-democratas têm maioria no Parlamento e vão continuar a governar até às legislativas, previstas para 2016.

Os resultados finais confirmam a dimensão da reviravolta protagonizada por Iohannis, descendente de alemães que se instalaram na Roménia na Idade Média, o que faz dele o primeiro chefe de Estado do país oriundo de uma minoria étnica. O até agora presidente da câmara de Sibiu, na Transilvânia, venceu as eleições com 54,5% dos votos, quando na primeira volta, a 2 de Novembro, ficou a quase dez pontos do actual primeiro-ministro, creditado por ter tirado o país de uma grave recessão.

Decisiva no resultado foi a forte participação nesta segunda volta – os 64% de afluência são um recorde no país –, com forte mobilização dos jovens, da população urbana e sobretudo dos emigrantes. Descontente com o rumo do país, a cada vez mais numerosa diáspora romena virou-se contra Ponta, depois de muitos dos três milhões de romenos a residir no estrangeiro terem sido impedidos de votar na primeira volta, devido a entraves burocráticos e a enormes filas nos consulados.

Mas o fracasso – que provocou a demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros – foi apenas a última gota na paciência de muitos eleitores, descontentes com alguns recuos no respeito pelo Estado de direito, incluindo uma proposta de lei de amnistia que, a ser aprovada, conduziria à libertação de políticos e magistrados condenados por corrupção. A recusa em concentrar todo o poder no mesmo partido terá também pesado na decisão de muitos eleitores, face ao receio de que, sem um contrapeso na presidência, o Governo limitasse a independência do sistema judicial, que continua sob supervisão da União Europeia.

Na primeira conferência de imprensa após a eleição, Iohannis prometeu uma relação construtiva com o Governo – que entrou em ruptura com o Presidente cessante, Traian Basescu. Mas assegurou que o combate à corrupção, que se mantém endémica no país, deve ser prioritário. Pediu, por isso, ao Parlamento para repudiar a lei de amnistia e levantar a imunidade a todos os deputados sob investigação da procuradoria anticorrupção.

Este resultado é “uma vitória da democracia e do povo contra um sistema dirigido pelos partidos políticos, em benefício próprio”, disse à AFP o politólogo Radu Alexandru, sublinhando que a eleição de um presidente de uma cor política diferente do Governo reforçará a independência do poder judicial – é ao chefe de Estado que cabe a nomeação dos altos cargos do Governo.

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