Recuperação dos carrilhões de Mafra avança em 2015

Comitiva da Europa Nostra e do Banco Europeu de Investimento terminaram visita ao Palácio Nacional de Mafra. Até ao final do ano apresentam plano de apoio.

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Carrilhões estão inactivos desde 2004 Enric Vives-Rubio

Há muito tempo a precisar de uma intervenção, e depois de terem sido nomeados em Maio como um dos sete monumentos mais ameaçados da Europa, a recuperação dos carrilhões do Palácio Nacional de Mafra deverá avançar no próximo ano. Quem o diz é o presidente do Palácio, Mário Pereira, que avalia positivamente a vinda de uma comitiva de especialistas da Europa Nostra e do Instituto do Banco Europeu de Investimento.

“Sinto que há uma vontade política para que finalmente esta situação mude”, diz ao PÚBLICO Mário Pereira, o director do Palácio Nacional de Mafra, contando que os peritos que estiveram no local com o objectivo de preparar um plano de acção para os carrilhões “saíram surpreendidos com o que viram”. “O que aconteceu aqui nos últimos dias foi muito importante, precisamos que a ideia de que é urgente salvar este património único seja replicada pela Europa”, continua.

Foi em Maio que a Europa Nostra, uma associação pan-europeia de defesa do património, presidida por Plácido Domingo, “que até já demonstrou vontade em dar um concerto em Mafra”, como conta Mário Pereira, incluiu os carrilhões entre os sete monumentos europeus mais ameaçados em 2014, garantindo assim o seu apoio, em conjunto com o Banco Europeu de Investimento. Foi por isso que nos últimos dias esteve em Mafra uma comitiva para, por fim, se traçar um plano de requalificação para este conjunto de instrumentos musicais há muito guardados por andaimes. Os resultados das visitas e das reuniões dos últimos dias só devem ser conhecidos no final do ano, quando o relatório final for apresentado, mas Mário Pereira diz estar “muito esperançado”.

“Senti que houve uma consciencialização séria para o problema que temos aqui, estes três dias foram extremamente profícuos”, conta o director, garantindo que “houve uma unanimidade [por parte dos peritos] em reconhecer que não existe um monumento como este, esta realidade patrimonial é única na Europa”.

Encomendados por D. João V no século XVIII, os carrilhões de Mafra têm mais de uma centena de sinos – os maiores chegam a pesar 12 toneladas – e estão inactivos desde 2004, dada a progressiva deterioração da estrutura de madeira que os suporta. O mais cotado dos dois carrilhões, instalado na torre sul, veio das oficinas Witlockx, em Antuérpia. O da torre Norte, um Levache fabricado em Liége, não foi afinado desde o século XVIII e mantém a sua sonoridade original.

A intervenção no local deverá começar muito em breve, explica Mário Pereira, apontando para “o primeiro semestre do próximo ano”. Ao PÚBLICO, Teresa Tamen, directora-geral do Centro Nacional de Cultura, entidade que representa em Portugal a Europa Nostra e que acompanhou toda a acção, explica que serão necessários pelo menos dois milhões de euros nestes trabalhos de recuperação – valor que o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, anunciou em Maio. Mário Pereira diz que “esta é uma verba que dá garantias” mas espera ainda conseguir fundos europeus. “Esta não é uma questão de Mafra, nem uma questão de Portugal, é uma questão europeia.”

Por seu lado, Teresa Tamen destaca como foi “importante” a vinda desta comitiva internacional ao local, “que só veio confirmar a urgência dos trabalhos e a importância do património”, podendo agora funcionar como “pressão” para se conseguir reunir outros apoios.

Depois disso, o caminho é a candidatura a Património Mundial da UNESCO, um desejo antigo de Mário Pereira. Sabe que levará ainda algum tempo, mas sente que cada vez mais é reconhecida a importância deste património. “Quando falamos dos carrilhões, não falamos só de património sineiro, mas também de património tecnológico e musical, é uma grande riqueza que temos aqui, ninguém fica indiferente.”

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