Reforços militares deixam Kobani um pouco menos sitiada

Cerca de 150 peshmergas iraquianos chegaram à Turquia com armamento pesado para combater jihadistas. Forças da oposição moderada síria também se juntaram à batalha.

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Curdos turcos e sírios juntaram-se para festejar a chegada dos peshmerga Bulent Kilic/AFP

Pela primeira vez desde que se viu na mira do Estado Islâmico, a cidade curda de Kobani preparava-se nesta quarta-feira para receber reforços de peso – 150 paramilitares vindos do Curdistão iraquiano que transportam consigo peças de artilharia e armas antitanque. Antes deles, dezenas de combatentes da oposição moderada receberam também autorização da Turquia para entrar na cidade, agora um pouco menos sitiada.

“A única forma de ajudar Kobani, já que os outros países não querem enviar tropas para o terreno, é deixar entrar algumas forças moderadas. E quem são elas? Os peshmerga e o Exército Livre da Síria [FSA]”, disse o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, numa entrevista à BBC em que retribuiu aos aliados ocidentais as críticas de inacção que eles tem dirigido a Ancara.

O Governo turco não quer que a batalha travada à vista da sua fronteira sirva para instigar a guerrilha curda – e por isso não deixou que curdos do país irem em auxílio das Unidades de Protecção Popular (YPG), que defendem quase sozinhas Kobani – e insiste que a intervenção na Síria só será coerente se visar tanto os jihadistas como o regime de Bashar al-Assad, o mesmo que nesta quarta-feira terá atacado com barris de explosivos um campo de refugiados na província de Idlib (Norte), matando pelo menos dez pessoas.

Mas as forças da região autónoma iraquiana do Curdistão, com quem nos últimos anos estreitou laços políticos e comerciais, são um aliado mais aceitável e, na semana passada, respondeu à pressão ocidental anunciando que autorizaria a passagem de até 150 peshmerga pelo seu território. Os reforços chegaram às primeiras horas de quarta-feira a território turco e esperava-se que atravessassem a fronteira com a Síria ainda durante o dia.

O primeiro grupo de peshmerga chegou num avião da Turkish Airlines que aterrou de madrugada no aeroporto de Sanliurfa, no Sul da Turquia, e viajou em autocarros escoltados pela polícia até uma base militar em Suruc, junto à fronteira síria, onde foram recebidos em festa por milhares de curdos. Iriam esperar ali pelos cerca de 40 camiões que, pouco depois do amanhecer, chegaram a território turco vindos do Iraque, transportando mais combatentes e sobretudo armamento pesado. “Hoje todos os curdos estão unidos. Queremos que eles partam para Kobani e lutem para a libertar”, disse à Reuters Issa Ahamd, um refugiado sírio que foi a Suruc para ver as forças vindas do Iraque.

As autoridades do Curdistão dizem que os peshmerga não vão entrar em combate com os jihadistas, mas transportam armas de que as YPG desesperadamente precisam, sobretudo equipamento para repelir os blindados que Estado Islâmico capturou aos exércitos sírio e iraquiano. Tão ou mais importante, os curdos iraquianos são uma força profissionalizada, habituada a cooperar com os militares americanos e, por isso, mais capazes de fornecer informações aos aviões dos EUA que há semanas atacam os jihadistas em Kobani sem conseguir repeli-los – as últimas informações indicam que os radicais controlam 40% da cidade e ainda esta semana a propaganda do Estado Islâmico divulgou um vídeo em que o refém britânico John Cantlie é mostrado em reportagem na cidade, dando a entender que ela estaria sob controlo dos radicais.

Sobre os homens enviados pelo Exército Livre da Síria (FSA), bandeira que une a fragilizada oposição secular a Assad, pouco se sabe. Um comandante adiantou que 200 combatentes sírios entraram na noite de terça para quarta-feira em Kobani; o Observatório Sírio dos Direitos Humanos disse ter informações de que seriam apenas 50. Mas a sua chegada não deixa de ser simbólica: as relações entre o FSA e as YPG sempre foram tensas, com a oposição sunita a criticar os curdos por, no início da revolta contra Assad, não terem tomado partido. Por outro lado, a união das duas forças põe em prática, ainda que numa escala reduzida, a estratégia contra os jihadistas proposta pelos Estados Unidos da América, que recusam enviar tropas esperando que sejam forças aliadas locais a protagonizar o combate no terreno.
 

   





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