Buraco na camada de ozono está a fechar e o CO2 pode dar uma ajuda

Nova avaliação científica da ONU aponta sinais de que a solução do problema está no bom caminho.

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O buraco na camada de ozono ao longo do ano

O buraco na camada de ozono está a começar a fechar, segundo uma nova avaliação científica de um dos mais mediáticos problemas ambientais globais. E, pasmem, se lançarmos mais gases com efeito de estufa para a atmosfera – ou seja, aqueles que estão a aquecer o planeta –, a cicatrização pode eventualmente ser mais rápida.

O futuro da camada de ozono tem, no entanto, vários pontos de interrogação, de acordo com esta nova avaliação divulgada esta quarta-feira pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP, na sigla em inglês). Num exercício que se realiza de quatro em quatro anos, três centenas de cientistas passaram a pente fino tudo o que se sabe sobre a camada de ozono, que protege a Terra dos raios ultravioleta.

A principal conclusão é a de que o buraco surgido nos anos 1980 devido a produtos químicos utilizados em aerossóis, frigoríficos, extintores e outras aplicações dá sinais firmes de estar em recuperação.

Nas décadas de 80 e 90, a concentração de ozono diminuiu cerca de 2,5% em média, globalmente, aumentando o risco de doenças como o cancro de pele e problemas de visão. O problema maior concentra-se sobre os pólos, onde a rarefacção do ozono é mais expressiva.

Desde 2000, no entanto, a situação tem estado mais ou menos estabilizada, com sinais de uma ligeira recuperação nos últimos anos. “Há indicações positivas de que a camada de ozono está no caminho para se recuperar até ao meio do século”, afirma o director executivo da UNEP, Achim Steiner, num comunicado. A previsão é a de que os níveis de ozono nas latitudes médias e sobre o Árctico regressem aos valores de 1980 antes de 2050. Sobre a Antárctida, isto deverá acontecer um pouco mais tarde.

É isto o que os cientistas esperam, se continuar a ser cumprido o Protocolo de Montreal – um tratado de 1987 que determinou a progressiva proibição de produtos que destroem o ozono na estratosfera, como os clorofluorcarbonetos (CFC) e os halons.

Achim Steiner diz que o Protocolo de Montreal é “um dos mais bem sucedidos tratados ambientais do mundo”. E há razões concretas para este sucesso: foi fácil encontrar alternativas para aqueles produtos químicos. E, mais do que isso, havia poucos fabricantes. “A produção de CFC estava quase toda concentrada numa única empresa, a DuPont”, recorda o físico Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e líder de vários projectos na área das alterações climáticas. “É completamente diferente do que se passa com os gases com efeito de estufa, em que o que está em causa é todo o paradigma energético que estamos a viver”, completa.

O buraco na camada de ozono e as alterações climáticas são problemas ligados entre si, de maneiras complexas e, nalguns casos, paradoxais, segundo evidencia a avaliação da OMM e da UNEP. A solução do primeiro pode trazer problemas ao segundo. E, ironicamente, o agravamento do segundo pode ajudar a resolver o primeiro.

Uma das principais preocupações recai sobre os hidrofluorcarbonetos (HFC), que têm sido utilizados para substituir os CFC. Além de destruírem o ozono na estratosfera, os CFC também aquecem o planeta. Mas os HFC são igualmente gases com efeito de estufa. “Os benefícios climáticos do Protocolo de Montreal podem ser anulados pelas emissões previstas de HFC”, alerta o estudo. A solução será optar por formas de HFC com menor potencial de aquecimento ou procurar outras alternativas.

Os gases destruidores do ozono permanecem activos durante décadas na estratosfera. Mas a sua concentração já tem vindo a diminuir. No futuro, segundo o estudo, o que também terá grande influência na camada de ozono serão os principais gases com efeito de estufa – o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Os dois primeiros são benéficos, ou seja, tendem a aumentar a concentração de ozono. O terceiro tem o efeito contrário.

Ninguém sabe, porém, o que vai acontecer com as emissões destes gases ao longo deste século. Com base em cenários do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, o relatório conclui que quanto maior for o nível de emissões, mais rápido fecha o buraco na camada de ozono.

“Os efeitos combinados dos níveis de CO2, N2O e CH4 podem adiantar a recuperação do ozono em duas a quatro décadas”, refere o estudo.

Lançar mais gases que aquecem a Terra, no entanto, é tudo o que não se quer. Dentro de duas semanas, líderes mundiais vão reunir-se com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em Nova Iorque, para discutir exactamente o contrário: como reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, para tentar limitar o aquecimento global a 2ºC até ao final do século – um nível considerado suportável.

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