O racismo volta a motivar a venda de um clube na NBA

O dono e o general manager dos Atlanta Hawks fizeram comentários racistas. A propriedade da equipa vai mudar de mãos.

Fotogaleria
Danny Ferry ajudou os Spurs a serem campeões em 2003 Jeff Mitchel/Reuters
Fotogaleria
O britânico Luol Deng já foi duas vezes All-Star Dennis Wierzbicki/Reuters

Há cerca de um mês, a NBA confirmou a venda “forçada” dos Los Angeles Clippers depois de ter banido Donald Sterling da Liga. Agora, foi o proprietário dos Atlanta Hawks, Bruce Levenson, a anunciar a intenção de vender o clube, uma decisão igualmente motivada por comentários de cariz racista, depois de ter sido revelado publicamente o conteúdo de um e-mail seu em 2012.

Mas o evento primordial deste novo escândalo que abala a NBA, e que desde então teve um efeito bola de neve, aconteceu em Junho passado. Numa reunião com donos e dirigentes dos Hawks para discutir possíveis contratações para esta época, o general manager da equipa, Danny Ferry, fez observações inapropriadas sobre Luol Deng, jogador que entretanto assinou pelos Miami Heat.

Presente no encontro, o dono minoritário Michael Gearon Jr. ficou chocado e depois escreveu uma carta a Levenson a recomendar o despedimento de Ferry. Foi através dessa carta que se soube o teor das declarações do general manager, que leu um relatório de scouting sobre Deng que não era da sua autoria, mas não se preocupou em editá-lo. “Tem um pouco de africano nele. Não num mau sentido, mas ele é como uma pessoa que tem uma loja agradável na frente e venderia material de contrabando nas traseiras”, escreveu Gearon Jr., relatando o que Ferry, antigo jogador da NBA, disse na reunião. “Ferry completou o insulto racial ao descrever o jogador (e implicitamente todas as pessoas de ascendência africana) como um mentiroso de duas faces e batoteiro”, acrescentou Gearon Jr..

Os Atlanta Hawks anunciaram que castigaram Ferry, mas não o demitiram. Por seu turno, este, que viu muita gente nos EUA a exigir a sua demissão, desculpou-se, embora tenha dito que apenas repetiu o que ouviu sobre Deng, a quem, entretanto, também pediu desculpa. “Repeti esses comentários durante uma conversa ao telefone de análise ao draft e aos agentes livres. Essas palavras não reflectem o meu ponto de vista ou palavras que usaria para descrever alguém e arrependo-me de o ter feito. Peço desculpa àqueles que ofendi e a Luol”, disse o antigo atleta, escolhido como n.º 2 do draft de 1989 e campeão da NBA em 2003 com os Spurs.

Deng, que nasceu há 29 anos no que é agora o Sudão do Sul, mas cresceu no Egipto e em Inglaterra, país que já representou em Campeonatos da Europa e nos Jogos Olímpicos de 2012, foi, nos últimos dez anos, uma das estrelas dos Chicago Bulls e tem uma média de 16,0 pontos por jogo ao longo da carreira na NBA. “Tenho orgulho em dizer que tenho muito de africano em mim, não apenas ‘um pouco’”, reagiu Deng. “Infelizmente, o comentário acerca das minhas raízes não foi feito com respeito”.

Sobre o relatório de scouting, os Hawks dizem que foi baseado em opiniões recolhidas oralmente junto de outras equipas e por isso não haverá ninguém no clube para responsabilizar.

Entretanto, os Hawks contrataram uma firma de advogados para fazer uma investigação ao caso e foi nesse processo, em que foram analisados mais de 24 mil documentos, que foi desvendado o tal e-mail de Bruce Levenson com declarações racistas, o que o levou a anunciar que irá vender a sua participação maioritária no clube.

No e-mail, Levenson discutia a necessidade de aumentar o número de espectadores de raça branca nos jogos em casa. “Penso que os brancos simplesmente não estavam confortáveis numa arena ou num bar em que estavam em minoria”, lê-se no e-mail, em que também defende a necessidade de ter mais “cheerleaders brancas” e se queixa de que “todos os fãs chamados para os concursos de lançamento são negros” e que a kiss cam é “demasiado negra”.

Sugerir correcção
Comentar