À boleia pela galáxia

Um entretenimento popular fora de tempo que merecia mais do que ter de responder a um caderno de encargos da produção

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Pelo meio da verdadeira “ocupação selvagem” que os estúdios de BD da Marvel fizeram dos “blockbusters” hollywoodianos, reduzindo praticamente toda a produção de entretenimento mainstream a aventuras de super-heróis dirigidas a adolescentes-tipo (e esquecendo que há mais gente no mundo para lá deles), é inevitável que Guardiões da Galáxia leve por tabela e seja olhado de esguelha.

 Erro: é um daqueles casos em que todo o envolvimento de marketing joga contra um filme que foge um tudo nada à regra “super-heróica”. Entregue às boas mãos de James Gunn, que começou carreira no estúdio Z Troma e escreveu a excelente remake do Zombie de George Romero, O Despertar dos Mortos, Guardiões da Galáxia é uma space opera derivativa e despretensiosa, revendo a matriz Guerra das Estrelas e a desenvoltura das séries B de Roger Corman num tom de western inspirado pelo Firefly/Serenity de Joss Whedon e pela recriação pós-pós-moderna do universo Star Trek por J. J. Abrams. Um grupinho de foras-da-lei siderais, ladrõezecos que se desenrascam como podem e que não querem ver o futuro do universo colocado nos seus ombros, acabam forçados a unirem-se para derrotar um vilão particularmente detestável.

O que Guardiões da Galáxia tem de bom, pelo meio do humor entre Hawks e A Teoria do Big Bang (posto na boca de um guaxinim resmungão e de um latagão burro como as casas), é a sensação de estarmos a ver um entretenimento de outro tempo, em que o cinema popular não se levava demasiado a sério e podia ser um pouco de tudo para todos de todas as idades. Ou seja, um tempo anterior à sisudez que se tornou de rigueur no cinema de super-heróis com Bryan Singer e Christopher Nolan.

Já sabemos que a Marvel não dá ponto sem nó e estes Guardiões são parte integrante do “plano quinquenal” da companhia – essa necessidade de “encaixar” no universo do estúdio, sobretudo com o final “heróico” e a porta escancarada para as sequelas, faz temer o pior para o futuro. Mas, se é triste perceber que a singularidade de um filme popular que não se leva excessivamente a sério e se delicia com um número infindo de piscadelas de olho à cultura pop dos últimos 50 anos está condenada à partida, já não é nada mau que James Gunn (muito à Joe Dante) tenha conseguido meter alguns pauzinhos na engrenagem Marvel com este entretenimento impecável para refrescar o Verão.

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