UTAD quer colocar mais proteína vegetal na dieta dos portugueses

Potenciar o desenvolvimento de novas políticas agro-alimentares é um dos objectivos da universidade.

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Favas, ervilhas e feijões são alimentos que não devem ser esquecidos Rui Gaudêncio

Recuperar a tradição antiga do consumo de feijão, inovando, simultaneamente, hábitos de consumo alimentares, é o principal objectivo do Departamento de Agronomia e do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que está a desenvolver um projecto de investigação nesse sentido.

Depois da universidade participar num projecto internacional que pretende apostar em novas formas de produção de leguminosas (feijão frade, ervilha e fava), Carlos Ribeiro, investigador da Escola de Ciências Agrárias da UTAD, achou que estava na altura de “priveligiar outras variedades de leguminosas, nomeadamente, o feijão verde ou o feijão seco, que têm um potencial extremamente elevado, que pode, eventualmente, correr o risco de perder-se se não houver o seu real aproveitamento”, explica.

A UTAD, em parceria com a empresa Frescura Sublime, propõe-se, agora, potenciar o consumo de proteína vegetal, uma política fortemente defendida pela União Europeia, diversificando a apresentação do feijão sob a forma de congelado. O objectivo é utilizar a semente do feijão verde, ainda imatura, em fase de desenvolvimento na planta, como fonte de proteína para confecção de sopas, saladas ou outros acompanhamentos. Este produto terá tempos de cozedura relativamente curtos, e, “inclusivamente, pode até surgir como um produto previamente cozido à semelhança do que acontece com as sementes maduras que são utilizadas já cozidas”, revela o coordenador do estudo.

As duas instituições pretendem contribuir, desta forma, para uma agricultura mais sustentável através de um aumento da produção com menos inputs externos, isto é, com menor utilização de fertilizantes. Este objectivo é conseguido uma vez que o feijão, através da bactéria Rhizobium, permite a fixação do azoto no solo para produções seguintes. Além disso, pretende-se estimular o tecido empresarial para a utilização de produtos que sejam mais amigos do ambiente, diminuindo, particularmente ao nível dos países desenvolvidos, “uma tendência, algo desenfreada, no sentido da produção de origem animal, que consome muitos mais recursos e energia, fomentando-se assim novas políticas agro-alimentares”, adianta Carlos Ribeiro.

A Dieta Mediterrânica, qualificada, recentemente, pela UNESCO, como Património Imaterial da Humanidade, coloca novos desafios a produtores, industriais, consumidores e decisores políticos, sendo este projecto “uma janela de oportunidade para estes não só desenvolverem a pirâmide alimentar subjacente à Dieta Mediterrânica, mas também potenciarem a utilização de outros produtos”, acrescenta.

Durante muito tempo, o feijão esteve enraizado nos hábitos alimentares da população portuguesa mas, segundo Carlos Ribeiro, “infelizmente, há alguma tendência para esquecer facilmente aquilo que no passado era a base da alimentação”.

O investigador espera, agora, que “já no próximo ano haja possibilidade de comercialização do produto e, mais tarde, de exportação, pois as empresas estão cada vez mais voltadas para a inovação”.  Sair fora das portas da academia, chegando ao consumidor final, é outra das metas delineadas para este estudo.“Queremos perceber como podemos melhorar a utilização culinária destes produtos porque sabemos, por exemplo, que alguns produtos já prontos a serem utilizados apresentam relativamente ao produto fresco, uma variação muito significativa dos seus constituintes. É um trabalho sem fim”, conclui.

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