A “biografia” oficial de Yves Saint-Laurent

Um biopic tradicional e elegante que não chega a ser mais do que um desfile bem filmado.

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Na “guerra dos biopics” com o Saint-Laurent de Bertrand Bonello (estreado em Cannes e que veremos mais para o fim do ano), foi este filme que teve a bênção dos herdeiros do criador de moda, e sobretudo do seu companheiro e guardião da sua memória, Pierre Bergé.

Esta é, então, a “biografia” oficial de Yves Saint-Laurent, em tudo igual aos biopics tradicionais “à americana”, “momentos escolhidos de uma vida” que se resolvem num desfile de episódios mostrados com elegância e pose mas nenhuma arte e quase nenhuma vida.

É um filme-manequim, que pelo meio da opulência dos figurinos e da reconstituição de época lá consegue dar espaço a dois actores para criarem personagens (Pierre Niney como Saint-Laurent e Guillaume Gallienne como Bergé vão para lá do simples mimetismo físico).

Se isso é virtude dos actores ou do realizador Jalil Lespert é uma pergunta que ficará em aberto. Tem, no entanto, algo que o diferencia da maioria dos biopics, e que não teria sido possível há 30 anos: não escamoteia a homossexualidade das personagens, assume-a antes com invulgar naturalidade. Mas isso não chega para fazer de Yves Saint-Laurent mais do que um desfile de alta costura filmado – e chegamos ao fim sem perceber muito bem se Jalil Lespert tem sequer um ponto de vista sobre aquilo que está a filmar.

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