A Mãe e o Mar

Em É na Terra, Não é na Lua, Gonçalo Tocha filmava a comunidade remota da ilha do Corvo como quem descobre uma outra forma de viver a vida; em A Mãe e o Mar, “encomenda” dos 20 anos do Curtas Vila do Conde, filma também uma outra forma de viver a vida, mas uma que já não existe: as companhas femininas de pesca de Vila Chã. Tal como no seu “diário” do Corvo, Tocha filma ao mesmo tempo o seu tema e o processo de construir um filme sobre esse tema: regista o que resiste desse passado em processo acelerado de desaparecimento (os depoimentos dos pescadores e das “pescadeiras” que ainda vivem), ao mesmo tempo que filma o próprio registo desses traços. O equilíbrio é difícil, e Tocha resolve-o melhor nesta montagem final que apura e afina a versão mostrada em Vila do Conde há um ano. Mas continua a ser um equilíbrio derrotado à partida pela ausência de imagens ou registos de época, que arrastam A Mãe e o Mar do terreno do documentário para o ensaio melancólico sobre um “tempo que acabou”, de uma honestidade e modéstia cativantes mas que sabem a pouco face ao potencial do assunto. Talvez, no entanto, fosse preciso outro realizador para esse filme; este é, claramente, um filme de Gonçalo Tocha, e isso fica-lhe bem.

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