Sei Lá

A adaptação do livro de Margarida Rebelo Pinto 15 anos depois da publicação do bestseller diz-nos algo sobre nós, hoje: o que fomos no passado ainda é o nosso presente. Há uma malaise no escapismo de Sei Lá que não estamos seguros ter sido procurada mas que está ali instalada: com o “atraso” do filme, que se torna retrato de época, somos obrigados a tomar distâncias e a olhar mesmo o espelho depois da festa. O resultado é (involuntariamente, seja...) cruel. Isso funciona a favor do filme. O que teria feito sentido, então: Joaquim Leitão ter filmado contra Margarida Rebelo Pinto. Isto não seria traição, mas outra forma de fidelidade. Para começar, ao cinema de Joaquim, que é melhor do que a literatura de Margarida. Na forma como se aproxima das personagens, nunca as olhando de cima, há vestígios desse filme “contra” que Sei Lá poderia ter sido: contra a facilidade, a superficialidade... Merecíamos um mosaico sobre a (nossa) intimidade onde nos pudéssemos ler; um mosaico sobre nós mesmo que contra nós, contra o nosso provincianismo. Isso não é este filme. Leitão quase consegue dissolver as máximas de mínimo existencial que Rebelo Pinto criou para a boca das figuras. Mas ficou refém do espanhol misterioso e do paroquialismo do projecto.

Sugerir correcção
Comentar