Noé

Darren Aronofsky sempre teve queda para a metafísica e para o misticismo, pelo que não é surpresa vê-lo a atirar-se a uma leitura revisionista da história da Arca de Noé. A surpresa é que Noé acabe por afogar uma série de ideias interessantes sobre religião, ecologia e fundamentalismo num todo inchado, sobre-dimensionado. Se não deixa de ser admirável ver um cineasta com cabeça a usar as mecânicas do grande espectáculo para pensar a religião e desmontar a visão reverente das procissões bíblicas bem-pensantes a que Hollywood nos habituou, não deixa de ser pena que Aronofsky se tenha abandonado à tentação de um barroquismo sisudo e programático, quase totalitarista. Há, a espaços, momentos de grande cinema, mas vindo de quem fez o injustamente mal-amado The Fountain/O Último Capítulo, o que aqui se passa é um filme muito aquém do seu potencial.

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