O Grande Gatsby

A vez de Fitzgerald ser submetido ao “tratamento Luhrmann”. Mas aquilo que era (ou parecia) revigorante em meados dos anos 90, quando o realizador australiano redescobriu o que havia de teen no Romeu & Julieta, já não é nada disso, é opressivo e ostensivo, um barroquismo sem gosto nem método que atafulha o ecrã de cores e “sensações” (musicais, também) e mata impiedosamente qualquer sentido da narrativa e da sua progressão. De Gatsby feito espectáculo desaparece Gatsby (e a tragédia, e o espírito da época) e fica só o espectáculo, uma euforia permanente tremendamente maçuda e quase sempre incomodativa (as 3D: ao contrário de Scorsese no Hugo, Luhrmann não percebeu que a imagem tridimensional exige um tempo mais económico, que não se compadece com o zás trás pás). Desfigurado como uma matrona inchada pelo botox (o “tratamento Luhrmann”...), Fitzgerald nem vê-lo. Se é ele que vos move, procurem antes esse belíssimo e tão pouco visto Terna é a Noite que foi o último filme de um senhor chamado Henry King.

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