Gostávamos de não ter de escrever isto, mas A Essência do Amor marca o momento em que o cinema impressionista, sensorial, lírico de Terrence Malick revela as suas limitações. Ou antes, o momento em que a sua ideia do cinema como Gesamtkunstwerk arrebatado, onde narrativa, imagem e som se fundem num só, perde um dos seus elementos e se resume a uma frágil fórmula estilística incapaz de se aguentar manca. A Essência do Amor parece ser um “post-scriptum” da sinfonia cósmica de A Árvore da Vida (2010), mas a meditação sobre a inocência perdida que transpirava desse filme dilui-se aqui num filme a todos os títulos de crise: crise das suas personagens (um casal incapaz de manter a chama do seu amor viva, um padre roído pela dúvida), mas também crise do seu autor, incapaz de fazer as imagens traduzir a dúvida e a inquietação que vai na cabeça de personagens que aqui são verdadeiramente bonecos sem espessura, arquétipos sem estrutura). Sim, é verdade: continua a não haver ninguém a filmar como Terrence Malick. Mas, em A Essência do Amor, isso não chega. A ver se é, apenas, um tropeção pontual.
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