Anna Karenina

Tantas vezes Joe Wright mexe a câmara sem saber o que fazer que qualquer ligação ao romance de Tolstoi passa a ser um tique à superfície. Quer dizer: o filme adaptará o romance Tolstoi da mesma forma que um espectáculo de abertura de umas Olimpíadas ali poderá ir procurar “quadros” para coreografar - aliás, tanto leque e tanto strike the pose na coreografia de Sidi Larbi Cherkaoui que corremos o risco de esperar, ao dobrar do plano, por Vogue, de Madonna. Anna Karenina é isso: imaginário visual de vaudeville (só que nem é capaz de brincar com o clássico como Baz Luhrmann brincou com o Romeu e Julieta de Shakespeare), incapacidade para fazer do ponto de partida que exibe de nariz no ar mais do que uma afectação - sim, a teatralidade da convenção social, percebemos, mas depois Joe Wright é básico, infantil, a sair para os exteriores sempre que se trata de contrapor com a “pureza” da vida no campo. Bem, nem falámos, como se repara, a propósito da incontinência dos movimentos de câmara e do suposto sufoco social, em Max Ophuls.

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