A Morte de Carlos Gardel

Não é pêra doce adaptar ao cinema António Lobo Antunes, pelo que se deve tirar o chapéu a Solveig Nordlund por ter pegado em “A Morte de Carlos Gardel” e ter feito dele um filme mais do que apenas razoável. Não é surpresa - a realizadora sueca há muito radicada entre nós já tinha provado o seu jeito para adaptações com o muito subestimado “Aparelho Voador a Baixa Altitude” - mas é bom ver que esse talento não caiu em saco roto e, sobretudo, que Nordlund continua a ter um toque seguríssimo com os actores, arrancando uma interpretação notável de Rui Morrison no papel de um pai transtornado com o coma quase terminal do filho toxicodependente. O filme, aliás, não é tanto sobre o filho mas mais sobre a sua família disfuncional (o pai, a ex-mulher alemã, a nova mulher nova-rica, a irmã lésbica) e sobre um Portugal perdido que continua a agarrar-se ao passado sem compreender que já não há passado que o salve. Espécie de requiem por um país que já não existe, “A Morte de Carlos Gardel” peca sobretudo por uma encenação cujo classicismo tomba repetidamente no convencional, mas transcende com segurança as sugestões televisivas que o seu início promete. Resolvamos assim a questão: “A Morte de Carlos Gardel” não é um telefilme mas se o fosse seria infinitamente superior a tudo o que as televisões portuguesas nos querem convencer hoje que é “ficção”.

Sugerir correcção
Comentar