Rui Chafes no seu ambiente

Vários anos depois (é um filme com data de 2003), e já com um carreira feita nos circuitos alternativos, estreia-se em sala "Durante o Fim", filme de João Trabulo centrado na obra, na figura e no universo de Rui Chafes. Apesar dos oito anos transcorridos desde a sua feitura não se tem perante ele nenhuma sensação de atraso ou de "perda de validade" - o que se calhar já é dizer alguma coisa sobre o filme.


Que é bastante inteligente na maneira de encarar o trabalho de Chafes (até pelo modo como o filma) sem nunca forçar uma "explicação", uma "interpretação" ou qualquer coisa peremptória desse género, remetendo-se para a contemplação e para uma série de "pistas" que vêm mais envolver (envolver o filme, envolver as peças de Chafes) do que "decifrar" seja o que for. Nesse sentido, é um filme que trabalha sobretudo a criação de um ambiente (quase em termos musicais), um ambiente construído com elementos que podem parecer imediatamente mais próximos ou mais remotos do universo de Chafes mas que acabam por encontrá-lo sem margem para dúvidas.

Enquanto a câmara percorre - em travellings ou em planos fixos - as esculturas do artista, a banda de som convoca excertos de diálogos de dois filmes ("Heinrich", de Helma Sanders-Brahms, sobre Kleist, e o "Andrei Roubliov" de Tarkovski). Será fácil compreender, através do filme, porque é que esses filmes, e os mundos que eles transportam, são convocados, mas antes da compreensão é importante o mundo "terminal" (o mundo "durante o fim") que a sua presença vai criando - e nesse mundo, tudo o que é da ordem da arte e da matéria de Chafes ganha um sentido próprio. Pode-se argumentar que há planos a mais, sobretudo na parte final, que abrem para um simbolismo que parece demasiado etéreo para a solidez metálica das peças de Chafes, e criam uma impressão de afectação que o filme conseguira até então evitar. Não impede que "Durante o Fim" seja um filme onde se vê Chafes e, ao mesmo tempo, um olhar autónomo sobre ele.

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