Road to Nowhere - Sem Destino

São muito raros os filmes que exalem, como "Sem Destino", tanto amor ao cinema, que definam tão certeiramente a mistura de sonho e pesadelo, fascínio malsão e entrega abnegada, masoquismo e transcendência de quem verdadeiramente vive o cinema. Não se quer com isto dizer estarmos perante uma obra-prima - a primeira longa de Monte Hellman em vinte anos não tem actores para isso, tem problemas de ritmo, momentos em que o digital (mesmo que magnificamente utilizado) é demasiado artificial; há momentos em que os diálogos são tão banais que nos perguntamos se isto é tudo a sério. Mas é na corda bamba entre o sonho e a realidade, que Hellman mantém permanentemente bamba até já não sabermos qual o nível de ficção que estamos a ver, esbatendo a "realidade" e a "ficção" até darmos por nós à deriva, que este "Vertigo" de vão-de-escada em jogo constante de "mise-en-abîme" sobre as imagens e as percepções transcende todas as suas limitações para se tornar num grande filme sobre o amor, sobre o cinema e sobre o amor ao cinema.

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