O Bom Soldado

No Japão dos últimos meses da II Guerra Mundial, uma mulher recebe em casa um marido que voltou mutilado - sem braços, sem pernas, surdo, mudo - com as convenções sociais a obrigá-la a cuidar dele. Mas a sensação de impotência que Shigeko (uma notável Shinobu Terajima) sente por ver a sua vida reduzida a cuidar de um "tronco consciente" torna-se numa libertação: Kyuzo regressou mutilado mas com a virilidade intacta, e Shigeko usa o sexo para virar o poder conjugal a seu favor, dando início a um jogo calculado e cruel de poder e desejo, que desintegra a rígida hierarquia patriarcal que espelha a derrocada anunciada do Japão imperial.


Koji Wakamatsu, veterano maldito e iconoclasta agora revelado entre nós, tira desta história concebida pelo romancista Edogawa Rampo e muito próxima do romance pacifista de Dalton Trumbo "...E Deram-lhe uma Espingarda" um filme incómodo e nervoso, cuja urgência joga a espaços contra a gravidade do tema; um pouco mais de controle teria evitado os escorregões pontuais para o gratuito.

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