Comer Orar Amar

A menina Julia andava a fazer mesmo muita faltinha

Não são precisos mais de cinco minutos de filme para percebermos a faltinha que Julia Roberts andava a fazer. Indubitavelmente a única estrela da Hollywood contemporânea que irradia a luminosidade e a graça das suas antecessoras da "época de ouro", a menina Julia tem nesta adaptação do best-seller autobiográfico de Elizabeth Gilbert sobre a sua viagem de autoconhecimento autoconhecimento à volta do mundo depois de um divórcio complicado um veículo elegante à medida não apenas da sua imagem mas também do seu talento de actriz.


Temos tendência a esquecer-nos que Roberts é uma actriz inteligente - e aqui, num papel de mulher vulnerável que se abre ao mundo e à aventura, temos mais uma prova disso, ao ceder não poucas vezes a "vedeta" aos actores e actrizes que com ela contracenam (o seu momento com Richard Jenkins num terraço indiano é notável). E essa inteligência é bem explorada pelo realizador Ryan Murphy, criador das séries "Nip/Tuck" e "Glee", que sabe como valorizar a sua imagem e o seu talento ao mesmo tempo. Dito isto, não se espere de "Comer Orar Amar", estruturado alternadamente como um filme de viagem sumptuosamente fotografado por mestre Robert Richardson e uma "woman''s picture" sobre uma mulher à procura de si própria, um grande filme: Murphy perde-se numa sequência de episódios soltos que nem sempre encaixam de modo coeso, deslumbra-se pontualmente com o luxo asiático das paisagens e dos cenários, cai aqui e ali no lugar comum da "americana em viagem" (ai aqueles planos de comida italiana, ai aqueles pôr-do-sol orientais).

Mas vamos ser sinceros: "Comer Orar Amar" não quer ser mais do que um veículo à medida de Julia Roberts, e como cumpre plenamente os seus propósitos, não podemos acusá-lo de falta de ambição. Além do mais, a menina Julia andava a fazer mesmo muita faltinha.

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