A Mulher do Viajante no Tempo

Uma fantasia melodramática que remete para os grandes melodramas clássicos

Andamos todos a resmungar que Hollywood já não sabe fazer filmes "à moda antiga" e, nem de propósito, cai-nos no colo esta fantasia melodramática que remete para os grandes melodramas clássicos ("Vitória Negra", 1939, de Edmund Goulding, é citado directamente) e para os romances fantásticos que fitas como "O Fantasma Apaixonado" (Joseph L. Mankiewicz, 1947) e "O Retrato de Jennie" (William Dieterle, 1948) popularizaram e Hollywood retomou a espaços - mais recentemente com o êxito-surpresa de "A Casa da Lagoa" (Alejandro Agresti, 2006).

Obviamente, este romance impossível entre uma artista sonhadora (Rachel McAdams) e um bibliotecário com uma bizarra anomalia genética (Eric Bana) que o propulsiona para a frente e para trás no tempo não está ao nível desses clássicos, mas também não quer estar - contenta-se em fazer um eficientíssimo melodrama onde a plausibilidade científica sucumbe rapidamente às emoções arrebatadas do grande amor face às grandes questões da vida. E o alemão Robert Schwentke ("Flightplan - Pânico a Bordo", 2005) encena a sua história com a quantidade exacta de contenção e elegância, consciente que há uma fronteira fina entre o ridículo e o grandioso e determinado a manter-se sempre do lado certo, muito ajudado pela convicção do elenco e por uma produção técnica impecável a todos os títulos.

É o tipo de filme modesto mas desenvolto que o sistema de estúdios fazia com uma perna atrás das costas, aproveitando para rodar as suas equipas e actores, mas que hoje parece perdido numa paisagem industrial virada para o "blockbuster" formatado. Não por acaso, este filme "fora de tempo" na Hollywood moderna ficou na prateleira seis meses enquanto a produtora New Line era absorvida pela casa-mãe Warner, acabando por se tornar num pequeno êxito no Verão americano de 2009 - era simpático que o mesmo acontecesse por cá, embora o ano de atraso com que estreia e o lançamento algo despachado não o façam prever...

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