Dúvida

"Dúvida" não quer, nunca, ser mais do que o registo do trabalho de actor

Não se espere de "Dúvida" mais doque aquilo que é: a adaptação(eficiente mais do que inspirada),pelo próprio dramaturgo, da peçateatral que Diogo Infante encenouentre nós em 2007, com um elencode luxo a brilhar muito alto nestahistória sobre a fé e a dúvida, abondade e a desconfiança, aintolerância e a abertura de espírito.

Num colégio católico do Bronx em1964, a freira rígida que o rege commão de ferro sente-se ameaçada pelalufada de ar fresco que o novopadre, progressista, traz, e umajovem freira idealista que nota comoo padre parece prestar especialatenção ao único aluno negro docolégio fornece-lhe a arma perfeitapara ir atrás dele, levantando adúvida sobre a idoneidade das suasintenções. John Patrick Shanley estáobjectivamente a "brincar com ofogo" na sua peça, ao introduzirquestões de fé e de raça numahistória inevitavelmente marcadapelos escândalos levantados peloabuso sistemático de crianças porparte do clero americano, masrefreia inteligentemente quaisquerextrapolações abusivas aoconcentrar a sua narrativa nabatalha de certezas e dúvidas entreas três personagens principais, aomesmo tempo que se retrai deinventar o que quer que sejavisualmente para se limitar a registaras interpretações dos seus actores.

Claro que, com estes actores acarburar a cem a hora, dificilmentealguém ficaria mal visto - e se nãohá surpresa nenhuma em MerylStreep e Philip Seymour Hoffmanserem sobreexcelentes, como é seuhábito, é inevitável deixarmo-nossurpreender por Amy Adams e ViolaDavis, porque não as conhecemostão bem e a sua entrega em nada ficaatrás da das "vedetas". "Dúvida" nãoquer, nunca, ser mais do que esseregisto do trabalho de actor, eganha-se nessa modéstia, mas faltalheo rasgo que lhe permitiria dar osalto para um grande filme. Assimcomo assim, já não ficamos malservidos.

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