À moda antiga

"A Lenda de Despereaux" tem mais a ver com a produção mais "clássica" da Disney do que com os recordistas recentes da Dreamworks

É uma "carta fora do baralho" na recente "avalanche" de produção animada: proveniente de um estúdio (a Universal) sem tradição no género, utilizando uma estética visual herdada das iluminuras medievais, colocando-se do lado do conto de fadas clássico, e, por uma vez, dirigindo-se directamente aos públicos mais jovens.

"A Lenda de Despereaux" tem mais a ver com a produção animada mais "clássica" da Disney do que com os recordistas de bilheteira recentes da Dreamworks ou as fábulas sofisticadas da Pixar, o que o torna numa bem-vinda singularidade na actual paisagem da animação, mas também num pequeno desafio comercial: como é que se "vende" isto? E seria pena que o filme se perdesse pelo meio da enxurrada natalícia.

Há algo de reconfortante num conto de fadas "à moda antiga" sobre a aventura, a coragem e o perdão, à volta de um ratinho corajoso (Matthew Broderick), uma ratazana magoada (Dustin Hoffman), uma princesa infeliz (Emma Watson) e uma criada ingénua (Tracey Ullman), contado com bem-vindas sensibilidade e delicadeza.

O que falta a esta "Lenda de Despereaux" é, se calhar, um bocadinho mais de personalidade - assinado por Sam Fell e Rob Stevenhagen, colocados ao volante após o afastamento de Sylvain Chomet (autor de "Belleville Rendez-Vous"), o filme "pertence" verdadeiramente ao produtor Gary Ross, realizador de "Pleasantville" e "Seabiscuit", responsável igualmente pela adaptação do livro infantil de Kate di Camillo que lhe está na base. E essa "confusão" de autorias sente-se bem no modo como o filme oscila entre uma abordagem narrativa mais americana e uma sensibilidade visual europeia sem que nunca nada coalesça num todo coerente.

Isso não invalida que haja momentos mágicos pelo meio de "A Lenda de Despereaux" - e a sua singularidade justifica plenamente a visão.

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