Imitação da Vida

Foi o último filme de Douglas Sirk em Hollywood, em 1959, e sente-se que o cineasta não podia ir mais além, sem o formato ceder, nesta forma de habitar na perfeição o modelo do melodrama hollywoodiano - como quem está no paraíso - para revelar o inferno que lá habita. "Lá" é o "american way of life" dos anos 50 (década que chegava ao fim) e as suas "imitações da vida". As personagens de Sirk estrebucham, gesticulam, há uma intensidade que pode parecer-nos despropositada, mas elas não chegam à revolta porque não têm consciência dela e acabam por reproduzir todos os estigmas sociais.

Veja-se, em "Imitação da Vida", um dos exemplos mais evidentes da claustrofobia que a "mise-en-scêne" de Sirk trabalha, como a mulher branca (Lana Turner já algo excessiva para aquele tempo, mas isso só beneficia o filme) e a mulher negra acabam por se deixar conduzir como veículos de um determinismo social - não admira que essa espécie de masoquismo essencial que prende as personagens ao meio social nos filmes de Sirk tenha seduzido Fassbinder, um dos realizadores que "leu" Sirk e o "recuperou" para as gerações que vieram depois...

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