A Invasão

É a quarta adaptação ao cinema da novela de Jack Finney sobre um organismo extra-terrestre que substitui os seres humanos por clones frios e sem emoções - e, tal como as três anteriores ("A Terra em Perigo", Don Siegel, 1956; "A Invasão dos Violadores", Philip Kaufman, 1978; "Violadores - A Invasão Continua", Abel Ferrara, 1993), é representativa do cinema que se faz hoje em Hollywood, só que neste caso pelas piores razões.

"A Invasão" está creditado ao realizador alemão Oliver Hirschbiegel ("A Queda", 2003) e ao argumentista David Kajganich, mas pelo menos um terço do filme foi refeito por James McTeigue sob a batuta dos irmãos Wachowski depois do estúdio se ter mostrado descontente com a versão de Hirschbiegel (que, ao que consta, carregava grosso na alegoria política). E isso sente-se no que arranca como um thriller paranóico alerta e eficaz, à medida que uma psicanalista de Washington começa a desconfiar que algo não está bem à sua volta, para descambar numa banalíssima fita de acção, correcta mas sem alma, com perseguições e tiros que parecem colados com cuspo.

Pelo meio, há "flashes" de um bom filme afogado pelo meio da confusão - é uma óptima ideia pôr uma psicanalista que receita anti-depressivos como "último reduto" da humanidade emocional, com o alastramento do organismo a trazer ao planeta a paz, e a paz de espírito, que os governos "humanos" nunca conseguiram, mesmo que depois a coisa descambe. O DVD há-de trazer a versão original de Hirschbiegel; para já, temos de nos contentar com o clone anónimo e impessoal que tomou o seu lugar.

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