Golpe Quase Perfeito

Clifford Irving foi o autor de uma das maiores fraudes literárias do século passado, quando inventou (e vendeu bem vendida) uma suposta autobiografia de Howard Hughes. A graça é que pouco tempo antes Irving tinha aparecido no "F for Fake" de Welles a discursar sobre falsários (tinha escrito sobre Elmyr de Hory, o célebre pintor-intrujão).

Caído em desgraça depois de desmascarado, precisou de anos para se recompor. E quando se recompôs, escreveu sobre... a sua história com a autobiografia deHoward Hughes. É esse livro que "Golpe QuasePerfeito" adapta, com Richard Gere na pele de Irving.

Dir-se-ia que é areia demasiada para a camioneta deHallstrom, que mistura demasiadas coisas e éespecialmente mau quando quer entrar na psicologia de Irving, ou distinguir o que é que entra pelamitomania e pela teoria da conspiração adentro e o que é que é mero mecanismo de autodefesa (as cenas alucinatórias são péssimas).

Quando se agarra à sua situação básica, à históriade um homem que inventa uma mentira, depois outra para sustentar a primeira, e por aí fora em sucessão interminável, consegue ser sempre interessante, tipo "screwball" com escritores e editores em vez decônjuges. E com energia, coisa rara em Hallstrom, especialista em filmes moles para prémios de prestígio.

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