Parece que os tempos sexualmente conturbados dão origem à proliferação de ficções controversas: neste caso, um caso de abuso de "internas" num colégio de freiras, com fortes conotações lésbicas, mas sobretudo com tons acusatórios no que respeita ao sadismo das instituições (religiosas no caso vertente) destinadas a castigar as mais jovens, acusadas de desvios e condenadas pelas respectivas famílias.

Formalmente próximo do "filme de prisão" (cruzamento ainda de outras ficções, algures entre "A Religiosa", livremente baseada em Diderot, e "Raparigas de Uniforme", um clássico alemão da década de 30, com remissões para os romances de Dickens), "As Irmãs de Maria Madalena" é um forte libelo contra a hipocrisia da Igreja e contra supostos moralismos redentores. Embora decorra na Irlanda, nos idos de 60, numa instituição já extinta, torna-se relevante em vista de recentes escândalos, conseguindo, no entanto, escapar às facilidades das mensagens primárias: não pequena proeza é a de se instituir num dos mais perturbantes e incomodativos olhares sobre a juventude abusada e sobre a falência dos discursos de regeneração.