Não há análise, só efeitos

Qualquer contaminação, mesmo produtiva, com a linguagem televisiva ou, pior ainda, com o estilo publicitário conta à partida com inimigos jurados: ainda recentemente, um filme interessante como "Moulin Rouge" foi acusado de musical MTV; cineastas como Ridley Scott são sistematicamente vilipendiados.

"Cidade de Deus", com a receita duvidosa de visitar as ruínas do pior neo-realismo com o aparato veloz do anúncio televisivo, teve direito a estatuto de excepção. A história de uma favela como alegoria de uma cidade ou como metonímia de um mundo só existe aqui enquanto cavalgada de imagens. Nunca há análise, só efeitos; nem temos tempo para parar, somos bombardeados com a manipulação, sem sequer a podermos identificar e aceitar (ou não). Passa por ali algum (o pior) Tarantino, a violência gratuita como fim e como espectáculo, mas "gore" e realismo social em velocidade de publicidade modernaça não cola mesmo.

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