Christian Bale não desiste

Christian Bale parecia destinado a seguir o percurso conturbado das crianças-actores. Ou seja, a acabar mal. Tinha 14 anos quando interpretou a criança traumatizada de "O Império do Sol", de Spielberg, e o que viu - entrevistas de promoção, fotógrafos, etc. - assustou-o. Quis desistir, e desistiu: regressou à escola, em Inglaterra. O cinema esqueceu-o antes dele se esquecer do cinema. Decidiu voltar, mas o filme que supostamente o lançaria, "Velvet Goldmine", de Todd Haynes, parecia mais propenso a chamar a atenção para as interpretações bem mais exuberantes de Ewan McGregor e Jonathan Rhys Meyers. Ainda não era a vez dele. Até que um papel que perseguira ao longo dos anos e que quase foi roubado por Leonardo DiCaprio mudou tudo: o do "serial killer" yuppie Patrick Bateman.

Não admira, portanto, que o filme realizado por Mary Harron em 2000 ainda seja assunto de conversa. "'American Psycho' valeu a espera e resultou como eu esperava, em vez do que toda a gente previa - que o filme seria intragável e que eu nunca mais voltaria a trabalhar". Mas Patrick Bateman não é personagem que Bale queira revisitar, embora lhe tenha trazido o que sempre ambicionou: a oportunidade de escolher papéis. "Tenho trabalhado continuamente e ando em filmagens há meses", afirma o actor galês, de 27 anos.

Depois de surgir em "Shaft" e "O Mandolim do Capitão Corelli", rodou "Equilibrium", um "thriller" futurista e claustrofóbico "com uma razoável dose de acção e uma enorme quantidade de armas", que protagoniza ao lado de Emily Watson. Mas o seu maior desafio em termos de filme de acção parece mesmo ser a super-produção da Disney, "Reino de Fogo", onde monta caça a dragões infernais. Não está sozinho: Matthew McConaughey interpreta um americano com um método especial de dizimar dragões.

"Eu tento manter toda a gente viva, o Matthew é que mata os sacanas", dispara Bale, como uma criança crescida. "Mas não são dragões, são uma prole de mostros subterrâneos voadores que cospem fogo", esclarece.

A acção passa-se em Londres, onde Bale jura vingar-se da morte da mãe, aliando-se a Yank, o auto-confiante matador profissional interpretado por McConaughey. Mas a própria dupla ameaça faiscar entre si.

"Reino de Fogo" é a segunda longa-metragem do criador de Ficheiros Secretos, Rob Bowman. "Vi a sua adaptação da série ao cinema e gostei que não tivesse muito sentimentalismo ou artifícios espertinhos. Mas o facto de ter feito 'Reino de Fogo' não significa que eu esteja a caminhar numa nova direcção. De certeza que vou responder a este filme com qualquer coisa mais pequena". Obviamente, Bale não quer desistir, agora que "American Psycho" lhe deu algo a que se agarrar. "Cada papel é tão precioso quanto o que se segue, pelo menos é assim que encaro as coisas. O facto de me terem oferecido um papel numa grande produção, o que jamais seria possível há dois anos, só representaria um perigo se me achasse numa posição em que tinha de jogar pelo seguro. Claro que fazer grandes produções em contínuo leva a isso. Mas de modo algum é o que eu quero fazer da minha carreira."

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