Star Wars - A Força Continua?

"Guerra das Estrelas - O Ataque dos Clones" é o grande "blockbuster" deste Verão. Ninguém duvida que o Episódio II será um sucesso de bilheteiras, mas a recepção morna ao anterior "Ameaça Fantasma" confundiu as expectativas. O Y foi tentar perceber por que é que a saga de George Lucas é tão popular e se a "Guerra das Estrelas" ainda faz sentido no século XXI. Para os fãs sim, porque já estão à espera de 2005, quando Anakin Skywalker se tornar Darth Vader.

Guerra das Estrelas - A Ameaça Fantasma", o primeiro (ou quarto, dependendo da maneira como se conta) episódio da saga de George Lucas, rendeu mais de mil milhões de dólares nas bilheteiras, bateu recordes de audiências e tornou-se num dos filmes mais vistos de todos os tempos. Mesmo assim, à medida que se aproximava a estreia do II (ou V) capítulo de "Guerra das Estrelas", "Ataque dos Clones", um facto começou a tornar-se óbvio: "A Ameaça Fantasma" foi um relativo fracasso.

Sim, foi um colossal sucesso de bilheteira, mas, com a expectativa acumulada por 16 anos de espera, não podia ser de outra maneira. No entanto, toneladas de produtos de "merchandising" ficaram por vender. E além disso, os críticos e, sobretudo, os fãs ficaram desiludidos. Episódio I tinha muita conversa e pouca acção, as personagens eram postiças, o protagonista era uma criança e a escassa comédia ficava a cargo de uma personagem desenhada por computador, Jar Jar Binks, que rapidamente se tornou no alvo principal do ódio dos fãs.

Por isso, com Episódio II a fasquia está ainda mais alta. Os críticos americanos que já viram o filme não gostaram, mas, para George Lucas, o teste decisivo será a reacção dos fãs. E Lucas prometeu mudanças para "Ataque dos Clones": mais acção, menos cenas explicativas, um pouco de romance (o protagonista, Anakin Skywalker, já é um adolescente, interpretado por Hayden Christensen) e menos Jar Jar Binks. Lucas recrutou mesmo um co-argumentista, Jonathan Hales, para fazer diálogos menos mecânicos que os do seu antecessor.

Não é a primeira vez que Lucas faz alterações a um filme baseado no "feedback" dos fãs. "O Regresso de Jedi", terceiro filme da primeira trilogia, era para se chamar "A Vingança de Jedi" - até que um fã disse a Lucas (produtor do filme) que o conceito de vingança não é próprio do código de honra dos Jedi. A questão, agora, é saber se as mudanças serão suficientes para assegurar o sucesso do novo capítulo da saga.

Um filme "para crianças"

A primeira trilogia estreou-se nos anos 70 e introduziu um novo paradigma no cinema de Hollywood. Nos anos 90, enfrentando a competição de novos "blockbusters" de acção, como "Matrix", ou de fantasia, como "Harry Potter" ou "O Senhor dos Anéis", a "Guerra das Estrelas" pode ter perdido algum do seu brilho.

A pressão gerada por 16 anos de espera também não ajudou. Jim Ward, director de "marketing" da Lucasfilm, disse à "Rolling Stone" que o bombardeamento dos "media" à volta de "A Ameaça Fantasma" criou um ambiente de saturação: "A imprensa exagerou. Não podíamos deixar cair um lápis sem que alguém escrevesse um artigo sobre o assunto."

Pelo menos a nível de bilheteira, não há dúvidas de que "Ataque dos Clones" será um êxito, embora a definição de êxito esteja a ser reescrita por sucessos colossais como "Homem-Aranha" - que, no início deste mês, bateu todos os recordes.

Do lado dos fãs, mesmo os que ficaram com reservas em relação a "A Ameaça Fantasma" aguardam intensamente "Ataque dos Clones". "Com o Episódio I havia tanta expectativa, ao fim de 16 anos. E depois ver Anakin Skywalker como um miúdo, parecia um filme para crianças", diz Suzanne, uma fã "linha dura" de "Guerra das Estrelas" (ver texto nestas páginas). "Mas era o primeiro episódio da saga, Lucas tinha de explicar muita coisa sobre as origens da história, era uma preparação para os outros capítulos."

Os fãs, aparentemente, têm paciência para tudo. Por muito mau que "Ataque dos Clones" possa ser, estarão presos à sua cadeira aguardando ansiosamente para perceber como é que Anakin Skywalker se transforma no Darth Vader que depois será o vilão e pai do herói Luke da primeira trilogia.

A "magia do mito"

É difícil encontrar alguma série de filmes na história do cinema que tenha desenvolvido uma legião tão fiel e dedicada como "Guerra das Estrelas". Por quê? "Os filmes tornaram-se numa subcultura", responde Pablo, um fã. "Acho que é o filme mais influente de todos os tempos, talvez porque tenha tantos elementos; uma pessoa pode lá encontrar o que quiser."

O Brooklyn Museum, em Nova Iorque, oferece uma exposição para tentar explicar o fascínio duradouro da "Guerra das Estrelas" (e, claro, para aproveitar a onda de publicidade à volta de "Ataque dos Clones"). Inclui imagens, adereços e elementos da produção dos quatro primeiros filmes. Está lá o capacete de Darth Vader, o fato de Chewbacca (o parceiro de Han Solo na primeira trilogia), os robôs R2D2 e C3PO, os elaborados trajes da rainha Amidala no Episódio I. Numa era de superefeitos especiais, em que os computadores põem o Homem-Aranha a voar de telhado para telhado em Nova Iorque, ou Keanu Reeves em mundos virtuais, o mais impressionante é perceber como grande parte do mundo de "A Guerra das Estrelas" é criado com tecnologia muito simples. Algumas das personagens mais populares foram criadas não por imagens geradas em computador mas por técnicas simples, como bonecos (o robô R2D2) ou fantoches (Yoda, que volta a aparecer em "Ataque dos Clones", mas desta vez já virtual). Não é, portanto, apenas o fascínio dos efeitos especiais que faz o sucesso da "Guerra das Estrelas".

A exposição do Brooklyn Museum chama-se "A Magia do Mito", e a sua explicação para o sucesso é essa: o intricado enredo da saga baseia-se nos temas básicos das mitologias (o conflito entre pai e filho, o confronto entre o Bem e o Mal, o conceito de que todos têm um "lado bom" e um "lado negro"). Os temas universais de "Guerra das Estrelas" permitiram a Lucas construir uma mitologia americana, uma quase religião ao mesmo tempo arcaica e futurista para um país de história recente. Mas os fãs não racionalizam a este ponto a sua devoção.

Delia, ela própria uma fã, está a produzir um documentário sobre pessoas cuja vida mudou devido à "Guerra das Estrelas". Ela conta histórias sobre um pai e um filho que se reconciliaram inspirados pela relação entre Darth Vader e Luke Skywalker; um homem com tendências suicidas que descobriu motivos para viver na filosofia positiva da "Guerra das Estrelas"; um professor que usou o conceito da "força" para ensinar. "A maioria dos casos não é assim tão dramática", diz Delia. Mas, por algum motivo, os filmes da "Guerra das Estrelas" têm estes efeitos.

Claro que falar de "Guerra das Estrelas" não é só falar de devoção, mas também de dinheiro. E não só dos resultados de bilheteira, que são uma parte relativamente menor da receita total dos filmes. Cada novo episódio gera uma avalanche de produtos. O livro baseado no argumento; a banda desenhada; os livros sobre as armas, as personagens, a vida animal e vegetal e até as receitas de culinária do mundo "Guerra das Estrelas"; os discos com a banda sonora; os bonecos das personagens; as máscaras; as espadas de luz e outros brinquedos; os jogos de computador; e etc.

No entanto, a invasão de "merchandising" será menor em "Ataque dos Clones" do que no seu antecessor; a Lucasfilm pôs no mercado meia centena de produtos, um terço a menos do que na estreia de "A Ameaça Fantasma". Isto porque, apesar de o "merchandising" do Episódio I ter rendido uns impressionantes dois mil milhões de dólares, muitos produtos ficaram por vender.

"Da última vez, puseram demasiadas coisas à venda", disse ao "USA Today" Dave Gerardi, editor de uma revista da indústria de "merchandising". "Ao fim de alguns meses, os retalhistas ainda tinham uma montanha de produtos e, mesmo com descontos, não conseguiam livrar-se deles." Provavelmente, ainda há algures armazéns repletos de bonecos falantes de Jar Jar Binks.

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