Oops!... Britney Fê-lo de Novo

Adolescentes de todo o mundo, uni-vos: Britney Spears chegou ao cinema: "Destinos".

Madonna a envergar uma t-shirt onde se lê "Britney". Um gesto de boa vontade ou mera jogada de irónica sobranceria? Com ela nunca se sabe. O certo é que Madonna ficou chocada com insinuações de que por detrás da sua t-shirt haveria algo mais do que uma boa acção. "Permitam-me que diga que me parece extremamente irritante que toda a gente desanque na Britney Spears? Não quero fazer nada a não ser apoiá-la, felicitá-la e desejar-lhe o melhor. Quer dizer, ela tem 18 anos! É chocante. Eu era tão desajeitada e saloia e insegura", afirmou à revista "Elle", em Fevereiro de 2001.

Há mais razões para mencionar Madonna, a propósito de Britney Spears, do que o mero facto desta última surgir, pela primeira vez, no seu filme de estreia, "Destinos", a cantar "Open your heart to me" em lingerie (Spears referiu sempre Madonna como influência-mor). A mais óbvia: tal como a rainha da pop, a princesinha da "teen pop" quis tentar a sorte nos filmes. Se o mundo pode suportar uma ex-membro do Mickey Mouse Club tornada cantora sexy de pop açucarado, por que não haveria de aguentar uma ex-membro do Mickey Mouse Club tornada cantora sexy de pop açucarado tornada actriz, certo?

Não exactamente. Ao contrário de Madonna, Britney Spears não está a tentar estabelecer a sua credibilidade no cinema ou a fazer uma pausa no percurso musical para filmar "Dangerous Game", com Abel Ferrara - e não deixa de ser curioso que a estreia de Spears no grande ecrã tenha suscitado a defesa da respeitabilidade de Madonna-actriz por parte dos críticos (os mesmos que duvidaram dela nos primeiros tempos?). Não, "Destinos", que ficou conhecido como "The Britney Spears Project", é um filme financiado por uma companhia discográfica, a Zomba Recording Corporation (detentora da Jive Records, etiqueta de Spears, Backstreet Boys, N*SYNC e R. Kelly), e concebido para coincidir com o lançamento de um novo álbum de Spears ("Britney", editado em Novembro).

Dito de outro modo: é apenas mais um veículo para dar novo impulso a uma carreira musical perigosamente ameaçada pela efemeridade (ver também Mariah Carey). Ou uma nova etapa naquilo a que os americanos chamam "artist development", que, bem vistas as coisas, é o conceito de "franchising" aplicado aos, enfim, "artistas".

Oops. O que faz a debutante Britney Spears em "Destinos"? Obviamente, canta. Obviamente, é uma adolescente à procura do seu verdadeiro "eu". Obviamente, continua a explorar a sua inconciliável imagem de marca, algures entre a ingénua virginal (mas, atenção: com miolos) e a despudorada exibicionista do umbigo.

Inconciliável? Tentem antes: infalível. Pode ser que Britney e "entourage" tenham descoberto o melhor remédio para combater o grande dilema dos fenómenos da pop adolescente (a sua curta duração): acompanhar o crescimento dos seus fãs. Basta comparar as capas dos três álbuns de Spears. No primeiro, "... Baby One More Time" (1999), surge como uma colegial sobre um fundo cor-de-rosa, o sorriso aberto, nada de umbigos à mostra, numa produção algo pobre (alô Vidisco).

Bastou um ano para Britney provar a sua precocidade: em "Oops!... I Did It Again" (2000) não há sinais da menininha que inclinava a cabeça numa pose para a fotografia - Spears já não sorri, mas também não é preciso, porque a perspectiva é a do umbigo.

Finalmente, no recente "Britney" (ao que parece, "Oops!... I Still Can Do It Again" era demasiado óbvio), alegadamente o mais pessoal dos álbuns, com os braços metidos entre as pernas, a pose informal e o ar grave, julgar-se-ia estarmos diante de um sério caso de questionamento interior - mas há algo mais que sobressai...

É a própria produtora de "Destinos", Ann Carli, que trabalhou 11 anos na Jive Records como vice-presidente do departamento de "artist development", a reconhecer que a sua prioridade, ao fazer o filme com Britney, era manter a fidelidade dos fãs da cantora à medida que vão crescendo. "O que acontece é que a juventude do artista e a sua personalidade atraem os miúdos. Mas depois de um ou dois álbums de sucesso, os miúdos tendem a ficar demasiado velhos para esse tipo de coisas." Portanto, "um filme sobre a passagem à idade adulta [por assim dizer], no qual a personagem de Britney se confronta com as mesmas questões de qualquer rapariga" pode proporcionar "uma proximidade que os videoclips não conseguem". Sobretudo, quando há 48 milhões de espectadores potenciais (é o número de álbuns vendidos de Spears)...

Ao que parece, resulta: o filme entrou directamente para o segundo lugar no "box-office" americano, numa semana difícil (coincidindo com os Jogos Olímpicos de Inverno), há pouco mais de mês. Pouco importa se já vimos tudo isto antes: amigas desavindas que redescobrem o poder da amizade; três raparigas (e um rapaz) num descapotável, a caminho de L.A. e dos sonhos; uma rapariga a quem todos apontam, incompreensivelmente, o talento (normalmente, interpretada pela "star" de serviço); a mesma rapariga tem um sonho, mas o pai, que em tempos foi um caça-fantasmas e um dos Blues Brothers, prefere que ela prossiga os estudos de medicina; a mesma rapariga vê todos os seus esforços recompensados - nomeadamente, a virgindade (é ela que fica com o rapaz) - e o seu sonho cumprir-se, ao passo que as outras duas não parecem nada preocupadas com o facto de uma ter perdido o namorado e a outra o bebé...

Podia ser um episódio de Beverly Hills 90210, mas é "Destinos". Ou o fabuloso destino de Britney Spears. Não por acaso, o filme não tem banda sonora editada: três dos temas fazem parte do novo álbum de Spears, incluindo a versão do hino de Joan Jett, "I love rock 'n' roll", e o single "I'm not a girl, not yet a woman". Nem rapariga, nem mulher? Não há uma palavra para isso, baby?

Sugerir correcção
Comentar