Efeitos visuais sobre efeitos visuais

"A CIA vista por dentro", podia ser o subtítulo de "Jogo de Espiões". É a única faceta interessante do filme, mesmo que daqui, obviamente, tenhamos poucas maneiras de aferir o grau de realismo ou de fantasia do que se conta e do que se mostra. Mas é quando adopta essa perspectiva neutra e maioritariamente descritiva sobre as acções da CIA (efectuadas numa espécie de clandestinidade dentro da própria clandestinidade "oficial" da instituição), do Vietname a Beirute com passagem por Berlim Leste, que o filme de Tony Scott consegue ser mais interessante. Até porque quando pretende fazer "dramaturgia", e "encher" as personagens-silhueta de Robert Redford e Brad Pitt, o filme falha por completo - para não falarmos da tentação sentimentalista, que pode ter resultados francamente ridículos, como na sequência em que a retirada americana do Vietname é acompanhada na banda sonora pelo "Brothers in Arms" dos Dire Straits... Podia, pelas primeiras razões e apesar das segundas, ser um razoável filme de rotina industrial, não fossem as marcas "autorísticas" de Tony Scott: efeitos visuais sobre efeitos visuais, uma montagem onde se muda de plano a cada dois segundos, absoluta insensibilidade para fazer sentir espaços e tempos. Demasiado "ruído", que rapidamente se torna cansativo e dificulta mesmo a compreensão de certas passagens da intriga - agravado pelo facto de este estilo de filmar e montar não estar ao serviço de um "olhar" ou de uma "leitura", mas reduzir-se ao habitual "show off" de Tony Scott, realizador cuja verdadeira vocação é a pirotecnia.

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