Philip Kaufman, que estava inactivo há algum tempo, regressa ao domínio da sua preferência: literatura europeia "transgressora". "As Penas do Desejo" (que título!) encena os últimos dias do Marquês de Sade, o asilo de loucos, as tentativas de "reformação", a frenética actividade de escrita, a influência que a sua personalidade e os seus textos exercem sobre aqueles que o rodeiam, em especial uma criada-cúmplice (Kate Winslet) e um padre em crise existencial (Joaquin Phoenix). O filme é terrivelmente justificativo, como se Kaufman sentisse necessidade de combater o seu próprio pudor (ou o do espectador, para o caso é igual) e precisasse constantemente de desculpar/redimir Sade, no tom apologético de quem diz que o Marquês era um porco, mas um porco genial. Ainda pior que esta pedagogia envergonhada, no entanto, é o grotesco que toma conta do filme, e para o qual contribui com grande convicção o cabotinismo do imparável Geoffrey Rush, empenhado em transformar Sade num tonto "bigger than life", espécie de primo libertino do pianista de "Shine". Desastre absoluto.
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