O último filme de Kubrick parece agradar sobretudo aos menos incondicionais admiradores do recém-falecido cineasta - pelo facto de a típica vertigem kubrickiana ser aqui menos visível, e funcionar numa surdina que, discretamente, vem agravar e ampliar o mal-estar que se instala em "De Olhos Muito Bem Fechados"? É que este é quase um "filme de câmara" (mesmo as cenas de exteriores são filmadas em estúdio) onde cada sequência é tratada como um acto teatral e onde a evidência do artifício rima com a fria exposição dos desejos e fantasmas da personagem de Tom Cruise, representante do género masculino. Perturbante e enigmático, polvilhado de remissões para a restante obra de Kubrick (nenhum outro filme seu faz isso desta maneira), é de crer que, passado o choque, "De Olhos Muito Bem Fechados" venha a encontrar o seu lugar justo na filmografia do cineasta: entre os melhores. Se o filme não ganhar o Oscar para melhor direcção artística, definitivamente não vale a pena acreditar na Academia.
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