O Príncipe do Egipto

Óptima surpresa, numa altura em que a animação "clássica" de estúdio parecia num estado de gravíssima esclerose. Em "O Príncipe do Egipto", a Dreamworks ? sob a batuta de Jeffrey Katzenberg ? pega no modelo estabelecido pela Disney e é capaz de o renovar de alto a baixo, de modo tão discreto como eficaz. Só é pena que essa vontade de arriscar na renovação não tenha correspondência nos aspectos musicais ? o pior do filme são as xaroposas canções, exactamente do mesmo género com que a Disney todos os anos ganha o Óscar da melhor canção. Visualmente, porém, "O Príncipe do Egipto" é um primor: sequências como a do sonho de Moisés ou as das pragas ? especialmente a que se abate sobre os primogénitos ? são dignas de antologia, pela invenção e pelo sentido dramático. E há muito que não se via, em animação, um trabalho sobre as personagens com esta profundidade, como bem o demonstra o surpreendente recorte trágico da figura de Ramsés. Uma coisa se prova, portanto: é a própria Disney quem pior trata a sua tradição.

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